“Recuperamos a democracia”, diz Arce, eleito na Bolívia

Arce foi o ministro da Economia no melhor período econômico da Bolívia – Foto: Ronaldo Schemidt/AFP

Fonte: Brasil de Fato

“Recuperamos a democracia e a esperança”. Essas foram as primeiras palavras do candidato do Movimento ao Socialismo (MAS), Luís Arce Catacora, após a divulgação da contagem rápida com 95% do padrão eleitoral, realizado pela empresa Unitel.

De acordo com os dados, o candidato, apoiado pelo ex-presidente Evo Morales, venceu as eleições realizadas neste domingo (18) já no primeiro turno. Os dados não são oficiais, mas uma pesquisa de boca de urna.

De acordo com o levantamento, Luís Arce obteve 52,4%; Carlos Mesa, 31,5% e Fernando Camacho, 14,1%.

Na Casa do MAS em La Paz, ao lado de apoiadores, Arce saudou os bolivianos e destacou a jornada pacífica realizada no país.

“Vamos governar para todos os bolivianos, vamos construir um governo de unidade nacional”, ressaltou, destacando seu compromisso com a retomada do desenvolvimento econômico do país. O candidato eleito foi o ministro da Economia no período de melhor desempenho da Bolívia.

Jeanine Añez, que se autoproclamou presidenta do país após o golpe de Estado contra Evo Morales, reconheceu o resultado eleitoral e a tendência demonstrada pela pesquisa de boca de urna.

“Ainda não temos a contagem oficial, mas pelos dados com que contamos, o sr.  Arce e o sr. Choquehuanca ganharam a eleição. Felicito aos ganhadores e lhes peço governar pensando na Bolívia e na democracia”.

A demora na divulgação da pesquisa de boca de urna, que historicamente é difundida a partir do fechamento dos centros de votação, gerou indignação em todos os setores do país.

Mais cedo, em conferência de imprensa, o ex-presidente Evo Morales reafirmou a vitória do MAS e pediu que as entidades do país reconheçam o resultado da votação.

De acordo com a lei eleitoral boliviana, para vencer em um primeiro turno, é preciso ter 50% mais 1 dos votos ou ter 40% mais um e abrir dez pontos percentuais em relação ao segundo colocado.

SAIBA QUEM É LUIS ARCE, O ECONOMISTA QUE COLOCOU A BOLÍVIA NO TRILHO DO CRESCIMENTO

Candidato presidencial do Movimento ao Socialismo foi ministro durante o melhor período econômico da história do país. Luis Alberto Arce Catacora é economista, graduado pela Universidade Mayor de San Andrés e foi ministro de Economia durante 13 anos. Responsável pelas políticas do período chamado de “milagre econômico”, quando a Bolívia foi o país que mais cresceu na América Latina durante quatro anos consecutivos.

Em 2018, o país sul-americano registrou um aumento de 4,7% do Produto Interno Bruto (PIB), batendo um recorde de US$ 40,8 bilhões, enquanto a média de crescimento mundial foi de 3,2% e regional 1,7%, segundo a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal).

Natural de La Paz, antes de ser ministro, Arce trabalhou entre 1987 e 2006 no Banco Central da Bolívia.

Entre 2017 e 2019, esteve licenciado por 18 meses do cargo, devido a um tratamento de câncer no rim, que realizou no Brasil.

Logo no início da sua gestão, impulsionou a nacionalização do setor energético, incluindo a gigante Yacimientos Petrolíferos Fiscais da Bolivianos (YPFB), triplicando os ingressos do Estado, com impostos a empresas privadas de 50% a 85% sobre a exploração de reservas de gás, o que contribuiu para manter uma média de crescimento anual de 5% durante toda a década seguinte.

Dessa forma, em uma década, o país aumentou suas reservas de US$ 700 milhões para US$ 20 bilhões.

Com o excedente gerado pelo setor energético, mineiro e agrícola, a gestão do MAS investiu na construção de rodovias, transporte público, geração de empregos e programas sociais para diminuir a desigualdade social do país, que, de acordo com a ONU, é de 11,7%.

A proposta do ex-ministro era diversificar a base da economia boliviana, estimulando o desenvolvimento do turismo, da agricultura e da indústria, e implementando um modelo que qualificava de “redistribuidor”.

O Modelo Econômico Social, Comunitário e Produtivo foi fruto de estudos iniciados ainda em 1999 por Luis Arce e um grupo de acadêmicos e intelectuais ex-militantes do Partido Socialista (PS-1), com os quais trabalhou como professor universitário. À época, questionavam por que um país rico em recursos naturais poderia ser um dos mais pobres da região.

Entre os nomes mais destacados do grupo, estão o ex-vice presidente Álvaro García Linera e Carlos Villegas, que ajudou a escrever o programa político do primeiro governo de Morales.

Nessa proposta preveem “criar as bases para transitar a um novo modo de produção socialista”, destinando anualmente uma média de US$ 7 bilhões às áreas sociais.

Dessa forma, o índice de extrema pobreza do país passou de 38,2%, em 2005, para 17,2%, em 2018. Enquanto a taxa de desemprego se posicionou em 4,2% – um mínimo histórico.

Um vice Aymara
Já o companheiro de chapa de Arce, David Choquehuanca, também tem uma trajetória reconhecida pelo povo boliviano. Ministro de Relações Exteriores entre 2006 e 2017, Choquehuanca é de origem Aymara, etnia que representa 19% da população boliviana.

Nascido em Cota Cota Baja, estado de La Paz, foi dirigente da Confederação Única de Camponeses da Bolívia e do Movimento Camponês Indígena. No último período exerceu como secretário geral da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América – Tratado de Comércio dos Povos (Alba-TCP).

 

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