Hino Nacional: como ir além do ‘virundum’*?


Chico Teixeira*

No debate sobre a obrigatoriedade de execução do Hino Nacional nas escolas, nota-se tanto pela Direita quanto pela Esquerda nacionalista um viés arbitrário e altamente autoritário. Fica evidente que nenhum dos lados apresenta, sobre esse tema, nenhum conteúdo de Educação, nada que tenha realmente a ver com uma pedagogia ativa e emancipatória. Predomina a abordagem de homens guiados por umas noções velhas de nacionalismo, que passarão pelas crianças como verniz que não cola sobre superfície áspera, e que provocarão chacota entre adolescentes e rejeição dos professores, por “caírem de paraquedas”, sem debate e sem quaisquer proposta pedagógica.

A maioria absoluta das crianças e dos adolescentes não conhece cerca de 70% dos adjetivos e substantivos fundamentais para a compreensão do sentido profundo do Hino Nacional. Apenas repetem palavras, sem entendê-las. Antes de “cantar” o Hino, dever-ser-ia fazer um amplo trabalho de língua portuguesa, para que crianças e jovens, quiçá professores, pudessem, de fato, saber o que cantam.

Os professores de História deveriam explicar em que condições o Hino foi composto, por quem e quando. E de quais “guerras do passado”, glórias e paz nos orgulhamos. A análise de texto, com professores, em laboratório comum de Português, Literatura, História e Geografia é fundamental para que o hino seja compreendido.

Só podemos amar aquilo que compreendemos.

Caso contrário é decoreba. Apenas uma obrigação autoritária, imposta por lei ou por carta, não é educação ativa ou emancipatória.

Além disso, uma pergunta: quantos alunos e professores sabem cantar? Precisamos de aulas de música, canto, canto coral, música instrumental para uma nação que tem música nas veias e cada dia se empobrece mais culturamente. Isso é pensar o Hino Nacional como motivação para uma Educação Emancipatória, o resto é autoritarismo.

PS: Virundum é um neologismo criado por Paulo Francis no Pasquim para indicar aqueles trechos das letras de música que cantamos erradamente, numa referência ao primeiro verso do Hino Nacional: “Ouviram do Ipiranga às margens plácidas…”

* Chico Teixeira é professor titular de História/UFRJ, e foi subsecretário adjunto de Educação do Governo Leonel Brizola.

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