Deputados vão obstruir votações até saída de Temer, primeiro presidente denunciado por corrupção

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Para os lideres da Oposição (PCdoB, PT, PDT, além de deputados da Rede e do PSol), a Câmara deve aceitar o mais rápido possível a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Michel Temer e votar no plenário a autorização para o seu julgamento no Supremo Tribunal Federal. Os deputados defendem a votação em aberto, durante um domingo e com transmissão direta pelos meios de comunicação, para que possa ser acompanhada pela população. Até lá, vão obstruir a tramitação de todas as matérias e fortalecer a mobilização contra o governo. “É um momento crucial: a primeira denúncia de natureza penal contra um presidente da República”, afirmou a líder do PCdoB, Alice Portugal (BA), em coletiva na tarde desta terça-feira (27), após pronunciamento de Temer, em que fez acusações contra o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) considerou o discurso do presidente “desastroso” e uma “afronta à nação”. E também pediu seu afastamento: “Temer abusou da ironia, do cinismo, e da mentira; mais uma vez expôs a fragilidade de sua defesa e o quanto seu diálogo com Joesley [Batista, executivo da JBS] é inexplicável e impublicável. Por isso, a Câmara e a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) precisam aprovar a denúncia oferecida.”

A líder do PCdoB convocou os eleitores a se mobilizarem, fortalecendo a manifestação do próximo dia 30 (sexta-feira), data da próxima greve geral convocada pelas centrais sindicais, e pressionando os parlamentares. “Comunicar ao seu deputado o interesse da nação brasileira de que esse presidente não continue a comandar os destinos do país é fundamental”, diz. “Esperamos que a população dê voz à vontade de renovação da democracia, porque esta Casa ainda pode fazer com que a PEC das Diretas seja votada e tenhamos eleições diretas para garantir a revalorização do voto e da opinião pública.”

Ela destacou, ainda, que “a permanência de Temer, sem legitimidade, indiciado, denunciado pelo procurador-geral da República, significa votar a reforma da Previdência e fazer com que a reforma trabalhista chegue ao seu final, sem legtimidade para tal.” E avisou: “vamos obstruir todas as matérias, na medida em que não é possível esta Casa fazer de conta que o Brasil está na normalidade, quando na verdade estamos numa circunstância de indefinição e de falta de perspectiva acerca dos rumos do pais.”

Com a denúncia feita por Janot, é a primeira vez que um presidente da República é denunciado formalmente por corrupção no exercício do mandato. A denúncia foi apresentada pelo procurador-geral da República ao STF, e pede, além da condenação, a perda do mandato de Michel Temer  “por ter agido com violação de seus deveres para com o Estado e a sociedade”. Com a formalização da acusação, o peemedebista será julgado pelo STF, mas apenas se a Câmara dos Deputados o autorizar. Para tanto, a líder do PCdoB na Câmara propõe a suspensão do recesso parlamentar de julho. “O Congresso não deve parar. Não deve haver recesso. O Brasil precisa sair da crise e a crise é Temer. Ele tem que sair da Presidência para que o Brasil possa voltar à normalidade institucional.”

Muitas questões não foram respondidas pelo presidente no seu pronunciamento, na avaliação do deputado da Rede: “Se Michel Temer não tem medo da Justiça, por que tanto empenho em impedir que o processo seja instaurado no Judiciário? Se tem respostas a dar para desmontar as acusações, por que ficou silente quando a polícia federal lhe enviou 82 perguntas? Por que ele faz um pronunciamento e foge das perguntas da imprensa? Se tem o que dizer para provar que a acusação é frágil, por que não enfentá-la de peito aberto?”

Patético
Para Molon há um movimento de esvaziamento de apoios ao presidente, mesmo na base aliada. “O esforço de mais de uma hora para conseguir plateia para fazer companhia a Michel Temer foi patético, e mostra enfraquecimento progressivo do governo. Basta comparar a foto da posse com a do seu pronunciamento e se vê que a cada dia o governo perde gente. (…) A quantidade de votos que o Temer tem hoje é menor do que a que tinha ontem; e amanhã será menor do que tem hoje. Pouco a pouco esse governo vai se desmanchando.”

A deputada Jandira Feghalli (PCdoB-RJ), vice-líder da minoria, espera que o Congresso “tenha o mínimo de responsabilidade”. E observou que a estratégia de fatiamento do processo foi correta. “Porque são três relatores e três votações na Câmara, o que pode permitir que, se uma denúncia não andar, as outras andem.” E, nesse tempo, com o aumento da indignação e a divulgação das novas denúncias, os deputados podem “pensar melhor em ter que dar três votos para salvar uma quadrilha que tanto mal fez ao país.” Para ela, Temer está “achincalhando” o Brasil. “Ele deveria ter poupado a população deste pronunciamento. Tudo o que ele falou foi numa linguagem de máfia. Fez acusações graves à PGR em vez de se defender.”

O líder do PT, Carlos Zarattini (SP), cobrou de Michel Temer a apresentação de eventuais provas ou informações que tenha contra Janot. “É uma tremenda irresponsabilidade acusar o procurador-geral da República sem ter outros elementos. Ele [Temer] deve explicações ao país. Para qualquer deputado que tenha ligação com a sua base vai ficar muito difícil se posicionar contra esse processo e explicar lá no seu Estado por que está apoiando um presidente da República que tem uma acusação pesada de corrupção, e que tantos malefícios tem feito ao povo brasileiro; que tem entregado o país.”

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