Da prisão, Palocci deve estar dizendo: bancos não podem dirigir o governo

Jorge Rubem Folena de Oliveira
Cientista político

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De uma hora para outra, o Grupo Globo (jornal e televisão) liberou delações que atingiram seus protegidos, Michel Temer e Aécio Neves, e envolveram o juiz Sérgio Moro em acusações de utilização de dinheiro de empresários para obstaculizar as atividades da Justiça, a fim de calar Eduardo Cunha, antes também protegido pela mesma organização e usado para afastar Dilma Rousseff do cargo de presidenta da República.

A sociedade brasileira ficou perplexa com as graves acusações contra todos os envolvidos, que teriam praticado no exercício de seus cargos públicos os delitos pelos quais estão sendo investigados por decisão do STF.

Sem dúvida, é caso para a cassação dos mandatos e a imposição de duras condenações, o que impõe definitivamente a autodissolução das instituições políticas do país e determina a formação de um novo pacto político para refundar a República brasileira, hoje sequestrada pelo capital financeiro, que, nos últimos doze meses, agiu para implementar reformas inteiramente prejudicais aos interesse do país e do povo brasileiro, sem exceção.

Com efeito, no (des)governo Temer, quem assumiu a frente das reformas anti-povo e lesa-nação foi justamente o ministro da Fazenda Henrique Meirelles, ex-empregado do BankBoston (comprado pelo Banco Itaú, no Brasil) e do Grupo J&F, controlador da JBS (dona entre outras, da marca Friboi), agora envolvida diretamente no escândalo que destituirá Michel Temer do exercício da função da Presidência da República.

A edição da Folha de S. Paulo de 19 de maio de 2017 registrou: “Meirelles diz que fica mesmo se Temer sair e reafirma seguir com reformas”. Ora, como pode um subordinado de Michel Temer (sem qualquer votação popular) manifestar que continua no governo, sem o seu “chefe”, para impor a continuação das reformas previdenciária e trabalhista, reprovadas por mais de 80% da população brasileira?

Com essa declaração, Meirelles sugere que é ele o chefe do atual (des)governo e deixa claro que o objetivo das denúncias para a destituição de Temer é permitir que ele assuma indiretamente (sem a participação popular) o controle efetivo do Brasil para os bancos e o mercado financeiro internacional, que não têm pátria nem respeito pela soberania popular e institucional dos países.

Por essa razão, o mercado defende como constitucional a eleição indireta, a ser realizada por um parlamento ilegítimo, patrocinado por bancos e empresas, por meio do financiamento privado vigente na campanha eleitoral de 2014.

Sem qualquer participação da população, os bancos querem eleger Meirelles, pois, com ele na Presidência, todas as reformas pretendidas estariam asseguradas, com o povo brasileiro a tudo assistindo pacificamente, para depois se submeter à mais dura exploração.

Vale lembrar que, em 2011, os bancos impuseram à Itália o burocrata Mario Monti, que substituiu Silvio Berlusconi (a versão italiana de Michel Temer), e que, ao assumir o governo, manifestou que ocupava “o delicado posto para acalmar os anseios dos mercados financeiros”. Sem dúvida, é o que fará Meirelles, caso não seja rechaçado pelos brasileiros, dos quais mais de 90% exigem eleições diretas e gerais para todos os cargos políticos do país, diante da dissolução das instituições políticas e da derrogação da ordem constitucional.

A única normatização política efetivamente existente no Brasil, neste momento, e que deve ser respeitada, é o direito natural de bases populares, segundo o qual todo poder emenda exclusivamente da vontade geral coletiva, e não de grupos que querem apenas tutelar o povo, como se este não tivesse voz nem iniciativa. O que se ouve nas ruas é um massivo basta aos políticos anti-povo. Eles traíram a nação, que clama pela urgente reconstituição da República, com a formação de novas instituições políticas (no governo, no parlamento e no Judiciário), que legitimamente possam representar a vontade geral coletiva, de onde emana todo o poder soberano do país.

Caso, mais uma vez, na História do Brasil, seja imposto ao povo (como desejam o mercado financeiro e alguns veículos de comunicação social) um governo que não represente seus legítimos interesses, poderá não haver paz e ocorrer, de fato, a instalação do caos. Inclusive com o surgimento de “líderes” oportunistas de extrema direita (apoiados pela força do capital e pela mesma mídia tradicional golpista de 2014), que poderão induzir as massas empobrecidas do Brasil de hoje ao pior caminho já visto na História da humanidade.

De sua cela, Antonio Palocci (vinculado ao mercado) deve estar dizendo: “Meirelles não pode ser presidente do Brasil!” Daí o medo da sua delação, por parte dos bancos, que assim escolhem eliminar Michel Temer, Aécio Neves e Sérgio Moro, todos de uma só vez, numa versão do sacrifício dos anéis para preservar os dedos.

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