SOBERANIA EM DEBATE

Quinta-feira, às 16h

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A República no Brasil: vocês querem bananas?


Francisco Teixeira*

A falta de compostura do PR e sua estratégia, posto tratar-se de algo pensado , organizado, planejado – agora com ensaio, roteiro e vestuário de programa de auditório de tv aberta do mais baixo nível -, revela-se uma clara forma de desprezo pela República e suas Instituições.

Como será possível , doravante, exigir de uma criança, de um adolescente, de funcionário, de soldado, de um empregado, de um filho, de um colega de trabalho, respeito, civilidade, compromisso perante um mais velho, um pai, um chefe, uma hierarquia, um símbolo pátrio, um ambiente de trabalho ou de estudo, quando o Servidor Público Número Um promove o esculacho da Magistratura Magna da República?

O próprio PR, que pede ao ministro da Justiça para processar críticos que ofenderem supostamente sua honra, contrata cômico para, ao seu lado e à sombra do Planalto, achincalhar a própria Presidência da República.

Nada que roqueiros ou punks digam ou façam será, doravante, crime, ao lado do que o PR, ele mesmo, fez com a imagem da Presidência. Ninguém, em parte alguma do mundo, jamais imaginou um dirigente republicano a contratar um clown para representar a si mesmo na diversão de seus admiradores e correligionários, enquanto acusa opositores de ferir a própria honra. Nonsense. Teatro de absurdos que faria Eugène Ionesco corar.

Presidente e humorista: a faixa como adereço cômico

Na sua marcha insensata, O PR não se detém: a cada má notícia, avança num vaudeville liberticida, pathos furioso, uma busca de apoio a qualquer custo, a qualquer preço, sem avaliar consequências. Lança-se em concorrência sem pudor com o pior dos auditórios das tardes de domingo – na emulação do Panis et Circus, ignorando as responsabilidades do cargo e as dignidades da faixa que conspurca.

Tememos pelo que em breve poderá ser lançado pelas janelas do Palácio Alvorada ou pelos sorteios já anunciados nos programas de tv…

A República está em risco. Não, não, não será um Golpe Militar, obsessão antiga e caduca: o risco é obsolescência moral, ética, política, cívica, pudica e societária.

Qual garantia teremos de que um professor será atendido quando pedir atenção em sala de aula? Ou um sargento ordenar um “em forma!”? Ou um chefe de seção solicitar uma tarefa “para o fim da tarde!”? Ou um pai determinar “antes da meia noite, viu?” …e não receberem um sonoro “f….. !”

Sim, para ministros da garantia da ordem da justiça – minúscula mesmo – ou um PR que tem um palhaço como sósia no Planalto, a República é um grande e ruim programa de auditório.

Numa paráfrase livre de Castro Alves, oh, bandeira do Brasil, por que escondes tamanha infâmia: onde estão os novos Ruy Barbosa, Rondon, Benjamin Constant? E qual civismo, quando homens que não amam a República querem banir Tiradentes e seu martírio do calendário nacional?

* Francisco Teixeira é professor titular de História do Poder e da Cultura (UFJF), professor convidado FU Berlim, Prêmio Jabuti. Coordenador do Movimento SOS Brasil Soberano