SOBERANIA EM DEBATE

Quinta-feira, às 16h

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Venezuela se prepara para resistir à invasão dos EUA pela força de seu povo e do ideal bolivariano

Os esforços de guerra norte-americanos que vêm reunindo navios e aviões militares no mar do Caribe são a cartada final de um longo processo. A semente da invasão à Venezuela que, ao que tudo indica, deve ter início em algum momento nos próximos meses, foi plantada anos atrás, quando o ex-presidente Hugo Chávez liderou a Revolução Bolivariana, direcionando o país à liberdade do jugo imperialista e aos interesses do povo venezuelano. Ali, os Estados Unidos perderam sua fonte de petróleo barato. E as agressões começaram.

“Desde o primeiro governo Trump, a Venezuela sofreu cerca de 750 sanções unilaterais sob a política de ‘pressão máxima’, destinada a derrubar a Revolução Bolivariana. Após a morte do comandante Hugo Chávez, o império acreditou que seria possível dar um golpe e tomar o poder, apoderando-se das riquezas naturais da Venezuela. Sofremos uma guerra multifacetada — econômica, midiática e diplomática”. O relato é de Yhonny García Calles, coordenador do Movimento Nacional de Amizade e Solidariedade Brasil-Cuba e Causas Justas, convidado do Soberania em Debate do dia 23 de outubro.

Foram, ao todo, mais de mil sanções econômicas, “mísseis silenciosos contra a economia venezuelana”, segundo o ativista. A Venezuela chegou a perder 90% de seu Produto Interno Bruto (PIB) e, ainda assim, foi o país que mais cresceu na América do Sul em 2024. A exportação de petróleo, carro-chefe da economia venezuelana, caiu de 2,4 milhões de barris por dia, em 2014, para 400 mil barris em 2019. Mais de 642 bilhões de dólares desapareceram e, ainda assim, o país resistiu.

Biólogo formado pela Universidade de Zulia, na Venezuela, com diploma em Medidas Coercitivas Unilaterais pela Universidade Bolivariana, Yhonny — que também é colaborador da Latin Press e assessor parlamentar da Comissão Permanente de Economia e Finanças na Assembleia Nacional da Venezuela — acaba de voltar de uma viagem ao Brasil, na qual participou de uma jornada de conscientização e mobilização pela Venezuela. “Hoje, com o apoio de aliados como a China, estamos retomando a produção com novas tecnologias. O petróleo venezuelano, que antes asfaltava as ruas de Nova York quase de graça, agora serve ao desenvolvimento do nosso povo”, aponta.

Para jsutificar as novas agressões e a ameaça de invasão, Trump diz travar uma guerra contra o tráfico de drogas que não encontra respaudo na realidade: Diversos estudos — inclusive da ONU, União Europeia e DEA — confirmam que a Venezuela não produz nem processa drogas. “Apenas 5% da droga colombiana tenta cruzar nosso território, e 85% dessas cargas são interceptadas. Já destruímos mais de 400 aviões e pistas clandestinas. Todos sabem de onde realmente vem a droga: da Colômbia”, afirma Yhonny. Apesar disso, os EUA posicionam navios e submarinos nucleares na costa da Venezuela, violando tratados de não proliferação e o princípio da América Latina como zona de paz.

Mobilização popular

O ativista fala de um país altivo e soberano que, apesar do déficit bélico em relação ao seu agressor, se prepara para se defender pela força do povo e do ideal bolivariano de independência. Ele lembra que, antes da mobilização de navios, submarinos e aviões, o império decadente tentou alimentar um golpe através do Grupo de Lima, do qual Jair Bolsonaro participou, e que foi derrotado pelo presidente Maduro e as forças cívico-militares.

Essas mesmas forças estão em mobilização agora. “Hoje, 8,2 milhões de milicianos treinam para defender seu país. O imperialismo tenta nos intimidar com ameaças, mas não há poder militar capaz de vencer a união do povo venezuelano”, destaca Yhonny.

A guerra contra a ousadia de um país que coloca em prática a sua soberania chegou ao Prêmio Nobel da Paz de 2025, concedido à opositora venezuelana María Corina Machado. O ato foi visto pelo povo venezuelano como uma provocação. Para Yhonny García Calles, o prêmio perdeu completamente o sentido. “María Corina sempre pregou o ódio e chegou a pedir à OEA que invadisse a Venezuela sob o TIAR (Tratado Interamericano de Assistência Recíproca). Em 2014 e 2017, apoiou protestos violentos que queimaram pessoas vivas e incendiaram escolas. E agora é exaltada pela direita global. Para nós, ela não representa a paz, mas a submissão ao imperialismo”, denuncia.

A contradição é evidente: enquanto uma opositora que defende abertamente a intervenção militar estrangeira recebe o Nobel da Paz, o povo venezuelano que resiste pacificamente à agressão econômica e militar é demonizado pela mídia internacional. “Seguimos o caminho da unidade e da soberania, inspirados por Bolívar, Chávez, Lula, Kirchner e Evo Morales. A Revolução Bolivariana não tem volta: seguirá avançando para garantir dignidade e independência ao povo venezuelano”, afirma Yhonny.

Integração latino-americana

A ofensiva imperialista contra a Venezuela abre um precedente perigoso para toda a América Latina. O que acontece hoje com Caracas pode acontecer amanhã com qualquer país que ouse desafiar os interesses norte-americanos na região. Por isso, Yhonny García Calles defende que a resposta deve ser coletiva e soberana.

“Como disse José Martí, ‘é a hora da marcha unida’. Bolívar já alertava, há 200 anos, sobre a necessidade de união. Devemos fortalecer espaços como UNASUL, CELAC e ALBA, baseados em cooperação solidária entre economias complementares. Só unidos poderemos resistir ao apetite imperialista que deseja nossa água, petróleo e biodiversidade”, explica o ativista.

A urgência da união continental fica clara quando se olham os números. Fidel Castro já alertava: os Estados Unidos consomem 18 milhões de barris de petróleo por dia e produzem apenas 8 milhões. De onde virão os 10 milhões que faltam? Do nosso continente. “Por isso, a unidade é nossa única salvação”, reforça Yhonny.

A defesa da soberania venezuelana não é uma questão distante do Brasil. As mesmas forças que atacam a Venezuela hoje podem se voltar contra outros países da região amanhã. A história recente mostra que golpes parlamentares, lawfare, sanções econômicas e desestabilização política fazem parte do arsenal imperialista contra governos progressistas latino-americanos.

Yhonny encerrou sua participação no programa ressaltando o caráter pacífico e diplomático do governo Maduro. “O presidente Maduro é um homem do diálogo — foi chanceler de Chávez por seis anos. Queremos paz, mas exigimos respeito. A diplomacia das armas não nos derrotará. Somos um povo de libertadores e sabemos superar dificuldades”, afirma.

A mensagem final é de solidariedade internacionalista e de confiança na força dos povos organizados. “Unidos, seremos invencíveis”, disse Yhonny, agradecendo ao Soberania em Debate e ao Senge RJ pela oportunidade de trazer a verdade sobre a Venezuela ao povo brasileiro. Sua mensagem é clara: A luta do povo venezuelano é também a luta do povol brasileiro. Defender a soberania da Venezuela é defender o direito de todos os povos latino-americanos à autodeterminação, ao controle sobre seus recursos naturais e à construção de um futuro sem a tutela imperialista.

O programa Soberania em Debate, projeto do SOS Brasil Soberano, do Sindicato dos Engenheiros no Rio de Janeiro (Senge RJ), é transmitido ao vivo pelo YouTubetodas as quintas-feiras, às 16h. A apresentação é da jornalista Beth Costa, com assessorias técnica e de imprensa de Felipe Varanda e Lidia Pena, respectivamente. Design e mídias sociais são de Ana Terra e redação de Rodrigo Mariano. As entrevistas também podem ser assistidas pela TVT, Canal do Conde, e são transmitidas pelas rádios comunitárias da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias – Abraço Brasil.