[dropcap]U[/dropcap]ma das saídas emergenciais para o problema do desemprego, que atinge cerca de 13 milhões de brasileiros, está no estímulo ao setor da construção civil, por meio de programas governamentais de contratação de obras de pequeno e médio portes. A proposta é de João Sicsú, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“O que precisamos, agora, são de pequenas e médias obras, espalhadas pelo Brasil todo, em cada município, comunidade, bairro”, diz Sicsú. A ideia não é investir em megaprojetos, mas em reformas de habitações e escolas — muitas em condições precárias país afora –, calçamentos, praças. Obras que, segundo o professor, empregam muitos trabalhadores e apresentam resultados rapidamente.
Ele lembra, nesse sentido, o grande impulso dado à economia pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), criado em 2007 para planejamento e execução de grandes obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética. Desta vez, contudo, devido às urgência dos brasileiros que perderam seus empregos, a orientação deve ser outra. “Diferentemente de grandes construções, que concentram o trabalho em determinadas regiões e demoram a entrar em fase de contratações, o melhor é pulverizar obras menores, mas que cheguem ao país todo. Para isso, as pequenas empreiteiras têm um papel relevante, junto a prefeituras e governos estaduais.”
O setor da construção civil demitiu 414 mil trabalhadores em 2016, de acordo com pesquisa nacional realizada pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), com base em informações do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE). Isso significa um “estoque” de 2,48 milhões de trabalhadores no segmento. A deterioração do mercado de trabalho afeta todas as regiões do Brasil, sendo os piores resultados observados no Centro-Oeste (-5,74%) e Norte (5,43%). Os estados que mais demitiram em 2016 foram São Paulo (-97.696), Rio de Janeiro (-77.726), Minas Gerais (-37.694), Bahia (-23.772) e Pará (-21,374). Os segmentos com os maiores cortes foram imobiliário (17,14%), infraestrutura (-13,96%) e preparação de terreno (13,68%) — este último significativo, ao indicar que não apontam no horizonte projetos em andamento. Em dezembro, na comparação com o mês anterior, Infraestrutura e Preparação de terreno registraram as maiores quedas, 4,96% e 4,52% respectivamente.
Na avaliação de Sicsú, se forem considerados trabalhadores informais, o total de demissões no ano na construção civil deve ser da ordem de 800 mil.
O Brasil vive uma crise de desemprego, com ameaça de convulsão social e aumento acelerado da miséria”, alerta Sicsú. “A solução emergencial por meio da construção civil é uma técnica conhecida, porque trata-se de um vetor reconhecido de recuperação econômica e um setor intensivo em trabalho.”
Renovação da frota
Outra estratégia para o reaquecimento do mercado, de acordo com o professor da UFRJ, seria o governo comprar todos os veículos com mais de 15 anos – automóveis, ônibus, caminhões – para serem destruídos. “Os proprietários receberiam um crédito, por exemplo, da ordem de R$ 15 mil – parcelados em 60, 80 vezes, pelo BNDES –, para adquirir modelos novos”, explica. “A iniciativa, adotada de forma similar em várias países, iria contribuir para recuperar o emprego em uma cadeia produtiva importantíssima, que é a da indústria automobilística.” Além disso, ele observa que uma frota renovada reduziria o número de acidentes e a poluição.
Em dezembro de 2016 o setor automotivo empregava 121,2 mil trabalhadores, em comparação a 130,5 mil no final de 2015. Ou seja, uma queda de 7,1% ou redução de cerca de 9 mil vagas, segundo informações da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
O fomento a reformas de escolas e habitações, e a renovação da frota de veículos, contudo, são medidas de urgência, para reverter a curto prazo o quadro extremo de desemprego. “Depois, é preciso pensar na reindustrialização do país de forma mais ampla, que envolva inclusive a Petrobras, em uma política industrial”, diz Sicsú.