Os petroleiros vão realizar assembleias de 2 a 12 de maio para votar greve nacional da categoria contra a privatização do parque de refino da Petrobras no Sul e Nordeste, anunciada no dia 19 pela direção da estatal. A proposta é vender até 60% da participação acionária nas refinarias Presidente Getúlio Vargas (Repar-Paraná), Abreu e Lima (RNEST-Pernambuco), Landulpho Alves (RLAM-Bahia) e Alberto Pasqualini (Refap-Rio Grande do Sul). A privatização inclui os ativos logísticos das refinarias, ou seja, 12 terminais terrestres e aquaviários. O controle da estatal na área de refino ficaria mantida apenas nas unidades do Sudeste.
“Não iremos aceitar de cabeça baixa”, avisa o diretor da Federação Única dos Petroleiros e Petroleiras (FUP) e coordenador-geral do Sindipetro da Bahia, Deyvid Bacelar. “Defender a Petrobras é defender o país, a Bahia, os nossos empregos a nossa soberania.” A Refinaria Landulpho Alves foi a primeira do Brasil, inaugurada em 1949, indutora da industrialização no estado da Bahia e no Nordeste. É a segunda maior do país, fornecendo ainda derivados para o Polo Petroquímico de Camaçari, lembra o sindicalista.
As refinarias Abreu e Lima e Landulpho Alves, mais os terminais no Nordeste, representam uma capacidade de processamento da ordem de 430 mil barris por dia (bpd); e as do Sul, 416 mil bpd. A expectativa da direção da Petrobras é aprovar o modelo em prazo de quatro semanas, para submetê-lo às análises do Tribunal de Contas da União (TCU).
Nem poço nem posto: o plano da desintegração
O plano de esvaziamento progressivo da capacidade brasileira no refino de petróleo foi denunciada em maio de 2017, pelo ex-presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, durante o II Simpósio SOS Brasil Soberano, realização do Senge-RJ, da Fisenge e do Senge-BA. Na ocasião, ele destacou as diferenças entre o modelo do governo Temer — de desmonte da soberania nacional — com a política em vigor desde 2003 até o impeachmento de Dilma Rousseff, em 2016, que previa “a autossuficiência, a expansão da capacidade de produção de derivados e a ampliação da indústria de fornecedores brasileiros, preparando-os para atender à produção de petróleo”. Era o projeto “do poço ao posto”.
O desenho pós-golpe, disse Gabrielli na ocasião do Simpósio, entre outras deficiências, já não abrangia a atividade de refino. “Atualmente, a política de refino visa manter os preços de derivados associados, mas criando condições para que a estatal diminua sua responsabilidade no mercado e abra espaço para importações. ‘Os contratos eram 100% da demanda dos distribuidores, mas, hoje, a empresa não se compromete mais com o atendimento total’, diz. ‘Esse quadro permite que, mais adiante, os investimentos ocorram em modelo semelhante ao da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), que atua no Rio Grande do Sul em parceria com a Repsol (de origem espanhola).’” Era o prólogo do que agora se apresenta.
* Com informações do Jornal do Brasil, FUP e Brasil de Fato
Para saber mais sobre o desmonte da capacidade brasileira no setor de petróleo e gás:
http://sosbrasilsoberano.org.br/ii-simposio-sos-brasil-soberano-jose-sergio-gabrielli/ (Vídeo da apresentação de José Sergio Gabrielli no II Simpósio SOS Brasil Soberano)
http://sosbrasilsoberano.org.br/cronograma-de-leiloes-para-exploracao-de-petroleo-visa-dificultar-a-participacao-da-petrobras/ (Entrevista com José Sergio Gabrielli sobre leilões do pré-sal)
http://sosbrasilsoberano.org.br/estrella-candidatos-presidencia-devem-alertar-empresas-de-petroleo-sobre-risco-juridico-governo-temer/ (Entrevista com o geólogo Guilherme Estrella, uma das lideranças do projeto que descobriu as reservas de petróleo na camada pré-sal)
http://sosbrasilsoberano.org.br/guilherme-estrella-os-brasileiros-devem-promover-uma-ruptura-radical-que-anule-os-atos-do-atual-governo/ (Artigo assinado pelo geólogo Guilherme Estrella)