Aconteceu, no dia 14 de dezembro, o último “Soberania em Debate” de 2023. Beth Costa e Jorge Folena receberam Paulo Mansan, dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, para uma conversa sobre organização e solidariedade, características intrínsecas ao MST
Natural de Maquiné, no Rio Grande do Sul, Paulo é doutorando em Agroecologia e cursa Especialização em Questão Agrária, ambas pela UFRPE. É graduado em Filosofia, mestre em Sociologia, especialista em Projetos Sociais e Culturais e em Educação no Campo. Mansan ainda é coordenador da campanha Mãos Solidárias, uma parceria entre movimentos sociais para combate à insegurança alimentar.
Em 2011, o gaúcho migrou para Pernambuco para assumir a assessoria nacional da Pastoral da Juventude Rural. Esteve presente em diversas lutas e então chegou à coordenação nacional do MST.
O extenso currículo acadêmico pode causar surpresa. Mas o dirigente explica que sempre esteve próximo da militância por vir de uma família camponesa, e pela sua participação em grupos religiosos ligados à luta campesina. Além disso, ele é assentado do MST em Moreno, município a 30km da capital Recife.
Hoje, além do Mãos Solidárias, Paulo coordena processos de articulação política do MST. Em especial, as ações de solidariedade, que ganharam ainda mais força e importância a partir da pandemia de Covid-19, quando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra teve papel fundamental para garantir a alimentação de milhares de pessoas em todo o país.
Mesmo com impactos positivos e inegáveis, a organização segue sendo atacada pela classe dominante. Prova disso é a “CPI do MST”, que começou como uma grande aposta para fortalecer o nome de Ricardo Salles para a prefeitura de São Paulo, e acabou como um fracasso da bancada ruralista. Paulo acredita que essa perseguição ocorre por uma questão de classe:
“Eu acho que é porque [o MST] dá voz para os camponeses pobres. Quando os sem teto, sem terra e sem casa adquirem um processo de protagonismo, isso incomoda a burguesia brasileira”, afirma.
São quase 2 milhões de militantes distribuídos em 24 estados do Brasil. Pela Via Campesina, esse número fica ainda maior: 130 milhões de camponeses defendem a agroecologia e a soberania alimentar em mais de 100 países, em todos os continentes. Essa articulação internacionalista é importante para organizar e dar peso à luta, mas também para criar uma rede de amigos no exterior que desejam contribuir até mesmo financeiramente.
Paulo defende que a Reforma Agrária brasileira precisa ser fortalecida pelo Governo Lula e explica como ela funciona hoje:
“Nós temos no Brasil o que a gente entende por uma reforma agrária burguesa. Pelo embate da mídia, às vezes não é dito, mas em nenhum momento um latifundiário sai no prejuízo com a reforma agrária. A gente luta por aquela terra, mas é um mecanismo de pressão, é para pressionar o estado a desapropriar”, detalha.
Do acampamento ao assentamento, o caminho é longo. É a ocupação de uma terra que chama atenção do (INCRA) para vistoriar se aquela propriedade é improdutiva. Em caso positivo, pode ser desapropriada. Nesse momento, o INCRA paga o proprietário, abre um edital para selecionar as famílias e assim o espaço se torna um assentamento. Tudo ocorre dentro da lei e de acordo com a Constituição Federal.
Durante a conversa, Paulo ainda falou sobre a relação com partidos políticos, projetos do MST e contou como é a relação com organizações semelhantes em outros países.
O Soberania em Debate entra em recesso agora e retorna com programas ao vivo em fevereiro. Enquanto isso, se você perdeu algum episódio, aproveite o período para colocar os vídeos em dia. Nos vemos em 2024!
Texto: Pamela Machado
Fotos: Mídia Ninja/Flickr, Fernando Frazão/Agência Brasil e Lula Marques/Agência Brasil