Desde a execução da vereadora Marielle Franco, do Psol-RJ, na noite de 14 de março, cinco jovens ativistas culturais foram assassinados em Maricá (no domingo, 25), tudo indica que pela milícia; e outros oito homens, mortos na Rocinha (dia 24) – segundo a PM, em troca de tiros; segundo os familiares e amigos dos rapazes, executados covardemente pela polícia. Nesse período, três policiais também morreram em tiroteios na Rocinha, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, e em Cabo Frio, na Região dos Lagos.
Enquanto crescem as notícias sobre ameaças e o número de mortos, principalmente de jovens, negros e ativistas de direitos humanos, o Estado demora a reagir. O cerco de brutalidades avança no Rio de Janeiro, e também em outros pontos do país.
No Sul, nesta terça-feira (27), grupos de extrema-direita atiraram contra a caravana do ex-presidente Lula, em outro marco evidente do avanço da barbárie.
Além das chacinas que atingem de forma assustadora o estado do Ceará, no último dia 20, homens armados invadiram a UTI do Hospital Geral de Parauapebas, no sudeste do Pará, e executaram a tiros Waldomiro Costa Pereira, assessor do gabinete da prefeitura da cidade e um dos líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na região.
É crucial para a democracia brasileira que o Estado consiga dar uma resposta contundente à execução de Marielle Franco, crime que desafiou, aberta e diretamente, os princípios civilizatórios e democráticos do país. O próprio comissariado da ONU alertou para a importância do esclarecimento do crime para a segurança de todos os militantes de direitos humanos no Brasil.
Espera-se que o Estado aponte e puna os responsáveis, atuando com inteligência para desativar comandos criminosos, sejam eles formados por militares – da chamada ‘banda podre’ das polícias –, milicianos, nacortraficantes ou forças políticas fascistas. Espera-se que apresente aos brasileiros um sinal, capaz de repercutir nacionalmente para o fortalecimento amplo das pessoas que lutam ao lado dos direitos.
As diferentes e confusas versões apresentadas inicialmente pelo Ministério da Segurança, desmentidas por órgãos do próprio governo, e a demora em apontar a origem do crime, seus executores e mandantes, preocupa. A sociedade brasileira não aceitará que a morte de Marielle Franco torne-se um novo “Riocentro”, caso em que o Estado acobertou, e nunca puniu, os responsáveis pela tentativa de atentado ao show comemorativo do primeiro de maio de 1981, que poderia ter resultado em milhares de mortos.
Para uma campanha eleitoral livre, democrática, sem violência nem covardia, para um mínimo de esperança por dias melhores, é imprescindível que os criminosos responsáveis pela execução de Marielle Franco sejam identificados e presos. E que os outros crimes também não fiquem impunes. Sem açodamento mas sem operação abafa.