Antonio Candido foi socialista, sociólogo, crítico, professor, militante da literatura e da política, campos para ele indissociáveis. Um homem que defendia que a “literatura é, ou ao menos deveria ser, um direito básico do ser humano, pois a ficção/fabulação atua no caráter e na formação dos sujeitos”. A definição está em Direitos Humanos e Literatura, um dos muitos textos extraordinários desse pensador generoso, culto, íntegro e gentil.
“Os que se formam em Letras, tanto em Língua Portuguesa quanto em Literatura, estão investidos de uma tarefa fundamental, a humanização do homem”, afirmou em mensagem gravada aos formandos da USP de 2008. “O ensino, o cultivo da língua, não é uma necessidade básica da sociedade. É A necessidade básica da sociedade. E literatura? (…) Napoleão, que era um tirano mas pode ser citado, dizia que ‘as ciências acrescentam muito ao que o homem é. Mas a literatura é o próprio homem’.”
Antonio Candido foi um dos fundadores do PT, do qual nunca se desligou, e integrou o Conselho Editorial da Fundação Perseu Abramo (FPA) de 1996 a 2002. Na FPA, propôs e coordenou a coleção Clássicos do Pensamento Radical, onde publicou Mark Twain, Jack London, John Stuart Mill e William Morris.
Iniciou sua carreira de crítico na revista Clima (1941-1944), ao lado de Paulo Emílio Salles Gomes, Alfredo Mesquita, Décio de Almeida Prado, Gilda Rocha de Mello e Souza (filha de um primo de Mário de Andrade), que se tornaria sua esposa. Da sua obra extensa, fazem parte livros fundamentais como Formação da Literatura Brasileira, Parceiros do Rio Bonito.
Em 2005, foi o primeiro brasileiro a receber o Prêmio Internacional Alfonso Reyes, um dos mais importantes da América Latina, concedido, entre outros, a escritores como Borges, Carpentier, Malraux, Octavio Paz, Harold Bloom.
A morte de Antonio Candio no último dia 12 de maio, num momento como o que vivemos agora no Brasil e no mundo, em que todos os valores do bem são desprezados, e guerras, fanatismos e tantas brutalidades massacram o ser humano, e as democracias estão ameaçadas, é simbólica. E faz ainda maior a sua perda.