O sistema elétrico da Venezuela sofreu um novo ataque cibernético neste sábado (9), por volta do meio dia, conforme informação divulgada pelo presidente Nicolás Maduro no Twitter. O governo venezuelano acusa os EUA e o senador oposicionista Juan Guaidó pela invasão criminosa aos computadores da Central Hidrelétria de Guri, a leste do país, que será denunciada às Nações Unidas e a demais instâncias internacionais.
“Nos próximos dias, chegará ao país uma delegação com a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, a quem apresentaremos as provas da denúncia deste ataque”, informou nas redes sociais o vice-presidente de Comunicação, Cultura e Turismo, Jorge Rodríguez. O apagão, diz ele, “é a agressão mais brutal ao povo venezuelano desde as lutas da independência, há 200 anos”.
O primeiro ataque, na tarde de 7 março, atingiu o Sistema de Controle Automatizado Ardas, responsável pela operação automática das 20 máquinas da Central Hidrelétrica de Guri, deixando 70% da população, em 18 estados, sem energia. O sistema monitora o aumento da demanda e da tensão, acionando maior ou menor carga nas máquinas. Como um mecanismo de defesa, ao detectar a invasão, o sistema interrompe a operação das máquinas. A Corporación Eléctrica Nacional (Corpoelec) informou o problema às 18h55 de quinta-feira no Twitter.
Entre as evidências da responsabilidade norte-americana na invasão do sistema, Rodríguez citou postagem feita no Twitter pelo senador pela Flórida Marco Rubio, um dos defensores da intervenção dos EUA na Venezuela. Às 19h18, 23 minutos após a pane no sistema, Rubio tuitou:“ALERTA: Informes de um apagão completo em toda #Venezuela neste momento. 18 dos 23 estados e o distrito capital enfrentam atualmente apagões completos. Aeroporto principal também sem energia e geradores de backup falharam.”
Rodríguez observa, contudo, que a falha nos geradores de backup, citada no post do senador norte-americano, não havia sido informada pelas autoridades. “Como ele poderia saber sobre a falha nos geradores de backup?”, questionou em vídeo divulgado nas redes sociais. “Faremos uma denúncia internacional. Se neste planeta há leis e normas de convivência no mundo, as mulheres e homens de bem devem agir contra essa barbaridade, em defesa dos direitos humanos, pelo direito à paz na Venezuela”.
Além de Rubio, o vice-presidente de Comunicação, Cultura e Turismo da Venezuela acusa o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e o senador oposicionista venezuelano Juan Guaidó (“autodeclarado” presidente), que também se manifestaram no Twitter. Na madrugada, Pompeo escreveu: “A política de Maduro não traz nada além de escuridão” (“Maduro’s police bring nothing but darkness”).
Antes, Guaidó, em seu tuíte, tinha ido além, condicionando o fim dos apagões à derrubada de Maduro: “Está claro para a Venezuela que a luz chega com o fim da usurpação. Sigamos em frente. Durante nosso giro pelo sul, buscamos apoios para responder a essa crise. Venceremos o bloqueio ao progresso com mobilização…”. O texto foi publicado às 20h24 do próprio dia 7, cerca de uma hora e meia depois da divulgação do problema, convocando apoiadores para manifestação contra Maduro, neste sábado (9).
Para Rodríguez as declarações revelam um inaceitável uso político do apagão, que atingiu crianças, adultos, salas de aula, sistema produtivo: “Em que tipo de cabeça psicopata cabe manter a Venezuela sem luz para atingir fins políticos?”, reagiu. Ele também negou que os apagões tenham provocado as mais de 70 mortes no país divulgadas por Guaidó. Os principais hospitais venezuelanos têm plantas elétricas de emergência criadas pela gestão bolivariana, garantiu o vice-presidente Setorial de Comunicação, Cultura e Turismo. E quando foi necessário, os pacientes foram transferidos para as unidades equipadas com elas.
Durante a “marcha anti-imperialista” até o palácio de Miraflores, realizada no sábado, Maduro afirmou que a “sabotagem elétrica” é uma nova modalidade usada pela oposição, com apoio dos EUA, para tentar criar “focos de desestabilização”. “Descobrimos que eles estavam realizando ataques de alta tecnologia e ataques a linhas de transmissão elétricas”, disse. Segundo o presidente, esta “guerra elétrica” já registrou mais de 150 ofensivas nos últimos seis anos. O governo venezuelano, disse, continua trabalhando para restabelecer o sistema elétrico nacional.
Dados da Corpoelec informam que a energia já foi restaurada em algumas regiões, como no estado de Aragua, onde 95% do sistema tinha sido reativado na sexta-feira.