Os dados do IBGE sobre emprego, na média de março a maio de 2018, revelam que a crise continua e está cristalizando um quadro de pior remuneração e qualidade de vida para os trabalhadores. Na comparação com o mesmo trimestre de 2017 crescem as ocupações sem carteira de trabalho – nas quais, além da precarização dos direitos sociais, a média da remuneração é muito menor: 61% da recebida por empregados com carteira, ambos do setor privado. A análise é do economista Victor Hugo Klagsbrunn, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada no dia 28 de junho.
Comparado com o primeiro trimestre de 2017, 1 milhão de pessoas a mais ficaram fora da força de trabalho, aumento impulsionado pelo crescimento donúmero de “desalentados”, no jargão estatístico, que são os que deixaram de procurar emprego por não ver perspectiva de encontrá-lo ou não ter condições de fazê-lo. O nível de afastamentos é superior à expansão do total daqueles que ingressaram na faixa em idade de trabalhar, de 1% em relação ao mesmo trimestre em 2017.
O aumento da base contribuiu para a diminuição da taxa de desemprego, que, mesmo assim, ficou em 12,7% no trimestre encerrado em maio, em comparação a13,3% do mesmo período no ano anterior. Mas essa melhoria da taxa de desemprego se deve sobretudo ao emprego sem carteira assinada e no setor público, pois o emprego com carteira no setor privado teve uma redução significativa de quase 500 mil pessoas, sempre na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior.
Resulta que o Brasil contava, na média de março a maio de 2018, com 13,2 milhões de desempregados. Números que, segundo Klagsbrunn, podem ser maiores, pois a metodologia do IBGE, explica o economista, considera desempregado apenas aqueles que efetivamente procuraram e não encontraram emprego e estavam disponíveis para assumir um trabalho na semana de referência da pesquisa. O IBGE também considera apenas os que no prazo curto de 30 dias tomaram alguma providência efetiva para conseguir trabalho, excluindo obviamente os que nesse período já o teriam conseguido, para começa-lo após a semana de referência. Portanto, classifica como desocupadas por desalento apenas os que desistiram de procurar trabalho no período de um mês, prazo bem mais curto que o período de um ano utilizado pelo Dieese para configurar desalento. Ressalte-se também que, se não estão ocupadas nem desocupadas, segundo os critérios do IBGE, as pessoas saem da força de trabalho assim definida.
Sem carteira
Além do desemprego persistir, grande parte da mão de obra que consegue se manter ocupada está migrando para piores condições de trabalho. O número de empregados no setor privado com carteira assinada (32,8 milhões em março-maio/2018) caiu 1,1% em relação ao trimestre anterior e 1,5% no confronto com março a maio de 2017 (menos 483 mil pessoas). Já o total dos sem carteira (11,1 milhões no último trimestre em análise) cresceu 5,7% (mais 597 mil pessoas) em relação ao mesmo período do ano anterior. Some-se a eles, ainda, a categoria dos trabalhadores por conta própria (22,9 milhões no último trimestre), que inclui muitas vezes população que sobrevive de bicos e ambulantes, formas de minorar os efeitos da desocupação, e que aumentou em 567 mil pessoas ou 2,5% (na comparação com março a maio de 2017).
Os números da transferência para a informalidade poderiam ser maiores, não fosse um aumento atípico nas contratações nas áreas de educação e saúde no setor público, movimento considerado sazonal pelo IBGE. Foram 423 mil pessoas a mais ocupadas nessas atividades, crescimento de 2,7% em relação ao mesmo período do ano passado.
“Compensando a perda de postos de trabalho de melhor qualidade – os com carteira assinada –, houve um aumento expressivo daqueles informais – os sem carteira e boa parte dos trabalhadores por conta própria e um também expressivo aumento do emprego no setor público, provavelmente por proximidade das eleições nacional e estaduais”, diz o economista. “O inchaço do setor informal do emprego afeta negativamente a massa de rendimentos pagos às pessoas ocupadas, pois nesse setor os rendimentos são bem mais baixos que nos demais setores. Com isto a demanda social não cresce tanto, o que reduz as possibilidades de maior recuperação da economia.”