No dia 17 de fevereiro de 2017, o Comandante do Exército, General Eduardo Villas Boas, concedeu importante entrevista ao jornal Valor Econômico, cuja repercussão tem sido abafada por setores da mídia tradicional e principalmente do meio político.
O general tocou em temas atuais e relevantes para o país, como a calamidade na área de segurança, em que “hoje morrem cerca de 60 mil pessoas por ano assassinadas, cerca de 20 mil pessoas desaparecem no país por ano, cem mulheres são estupradas por dia.” Com relação ao bárbaro estupro de mulheres no século XXI, foi dada a resposta, de forma consciente ou não, ao parlamentar que diz “que certas mulheres não merecem ser estupradas”.
Estes dados revelam o estado de crueldade em que vive a sociedade brasileira, na qual se aceita com naturalidade assassinatos, desparecimentos de pessoas e estupros sistemáticos de mulheres, sem que as pessoas se alarmem, de verdade, com estes graves acontecimentos, tratados com banalidade.
O general foi categórico também em afirmar que não cabe às Forças Armadas fazer o papel da polícia no combate à criminalidade, uma vez que “não queremos que o uso das Forças Armadas interfira na vida do país.” Ou seja, a sociedade brasileira não necessita ser “tutelada”, como ocorreu no passado. Outra resposta imediata aos setores que pedem intervenção militar.
A crise na segurança pública, com o assassinato e o desaparecimento de pessoas e o estupro de mulheres, foi uma das tarefas entregues ao ex-ministro da Justiça Alexandre de Moraes, indicado (pela Presidência da República) para o Supremo Tribunal Federal, em decorrência da morte do ministro Teori Zavaski.
Moraes que, à frente do Ministério da Justiça, se apresentou mais como uma espécie de chefe da “segurança pública” no país, fracassou na sua missão institucional, uma vez que “a Polícia Federal (sob o comando do Ministério da Justiça) estima que cerca de 80% da criminalidade seja ligada direta ou indiretamente à droga”, como destacou o general Villas Boas.
Assim, Alexandre de Moraes não conseguiu impor-se como ministro da importante pasta da Justiça nem como chefe da “segurança pública” capaz de enfrentar o tráfico de drogas, ao contrário da imagem caricata, por ele construída, de cortador de pés de maconha.
Ao ser indicado para o STF sem as credenciais necessárias, por ter fracassado no comandado da segurança pública, fica a sensação de que seu nome pode representar uma desestabilização para o prosseguimento das investigações contra os políticos com mandatos eletivos, que estão sob a responsabilidade do STF.
Na sua entrevista, o Comandante do Exército manifestou, com total convicção, que “hoje somos um país que está à deriva, que não sabe o que pretende ser, o que quer ser e o que deve ser.” Vindo esta declaração de um auxiliar e uma autoridade importante da República, constata-se que não existe governo, neste momento, no Brasil.
Nessas bases, a aprovação pelo Senado do nome de Alexandre de Moraes para o STF representa a ratificação completa de que “somos um país que está à deriva”, diante de um desgoverno que trabalha sistematicamente contra os interesses do país (inclusive facilitando a aquisição de terras por estrangeiros, na faixa de fronteira, em risco à soberania nacional) e de um grupo político que impõe sua sobrevivência à custa dos interesses do povo, num grande conluio contra o Brasil, sendo que muitos deles respondem a processos criminais no STF e têm seus nomes acobertados na “lista da Odebrechet”.
Com certeza, Comandante, estamos no fundo do poço e da degradação política
* Jorge Falena é cientista político