O contra-almirante e engenheiro naval Alan Paes Leme Arthou defende uma política de ampliação e valorização da indústria e da engenharia brasileira. Entre medidas importantes nessa direção, ele cita a inclusão da tecnologia no conceito de conteúdo nacional e a formação de clusters, para melhor aproveitamento dos recursos de infraestrutura local. “Temos um nível de engenharia bom e, na infraestrutura, deve-se pensar o máximo possível nas tendências regionais para fazer clusters”, disse, durante o I Simpósio SOS Brasil Soberano, realizado na sexta-feira (31), no auditório da Faculdade Mackenzie, pelo Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro e pela Federação dos Sindicatos de Engenheiros (Fisenge).
Os clusters são uma concentração de empresas com perfis semelhantes, colaborando entre si e compartilhando recursos. Podem incluir, diz Arthou, escolas técnicas voltadas para aquela linha específica de produção e outras facilidades logísticas, além de pesquisas realizadas em parceria com a indústria. O modelo ideal, na opinião do engenheiro, é aquele adotado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com vários escritórios regionais. “É preciso buscar eficiência coletiva”, disse. “Um plano de industrialização deve ser pensado em termos regionais, para desenvolver regionalmente o que é possível e conseguir uma malha em rede capaz de distribuir esse conhecimento.”
Ao contrário do Brasil, que não investe na relação entre indústria e unidades de pesquisa, os EUA, segundo Arthou, abriram um centro tecnológico em São Paulo para recrutar e contratar pesquisadores brasileiros. “Quando nós produzímos o boro [elemento químico usado, por exemplo, em reatores nucleares, no freio de nêutron, e em proteção balística], encontramos uma professora da Unicamp que estava fazendo pesquisa nessa área para o Exército dos EUA, com financiamento de Londres”, conta Arthou. “Precisamos ter consciência da engenharia que temos.”
Ex-gerente no Programa de Desenvolvimento de Submarino com Propulsão Nuclear da Marinha (Prosub), um dos mais estratégicos projetos na área de Defesa do país, ele alerta para o impacto econômico do esvaziamento da engenharia brasileira. “O motor da economia está falhando, estamos com pouco sangue”, advertiu. As indústrias instaladas no país, na sua avaliação, têm baixo conteúdo local, e o país tem formado poucos engenheiros por ano, um sinal crítico de baixo desenvolvimento tecnológico nacional.
No Brasil, ele estima que sejam pouco mais de 900 mil engenheiros, menos de 0,5% da população, ou menos de 1% da população economicamente ativa, da ordem de 105 milhões. Por ano, formam-se entre 40 mil e 45 mil profissionais de engenharia, em comparação a mais de 100 mil advogados. “Em 30 anos, teríamos 1,2 milhão de engenheiros. É pouco”, afirmou.
Um dos motivos para essa fragilidade, na sua opinião, é que o Brasil atua basicamente como “hospedeiro de indústrias estrangeiras”, e não investe no desenvolvimento tecnológico local. “Por exemplo, nas métricas do BNDES, não se leva em conta a tecnologia para pontuação de conteúdo nacional. Se a empresa compra um ativo no exterior, pode abater no IR, se for desenvolvê-lo aqui, não. Eu não consigo entender conteúdo nacional sem conteúdo tecnológico.”
Há, contudo, na sua avaliação, um grande potencial na indústria brasileira. A WEG, lembra o engenheiro, não conseguiu financiamento no Brasil para desenvolver um motor de polo permanente, componente necessário para os futuros carros elétrios. Decidiu, então, comprar um laboratório na Europa para realizar o projeto. “Isso é competitividade. Se não tivermos nossa própria indústria, não vamos conseguir chegar lá”. Na Alemanha, 24% da população estão empregados na indústria; 18% nos EUA, e 14% no Brasil. “Temos que defender os nossos interesses.”