O convidado do Soberania em Debate de 31/10, o professor e jornalista Celso Augusto Schroder, secretário da Federação de Jornalistas da América Latina e Caribe, apresentou uma análise sobre o panorama político brasileiro pós-eleições municipais.
Parte do esforço coletivo do campo progressista no entendimento do que está por trás dos maus resultados nas urnas, Celso destacou que, diferente dos debates que apontam a necessidade de uma virada das esquerdas à direita ou ainda mais à esquerda, as eleições deixaram evidente a continuidade de um movimento hegemonicamente conservador e de destruição do próprio tecido produtivo brasileiro, articulado com um movimento mundial de uma nova direita centralizada em corporações internacionais com o objetivo de tomar os Estados nacionais. O projeto, segundo ele, visa a destruição dos valores que construíram a modernidade, o iluminismo, o próprio capitalismo clássico.
Segundo o professor, a novidade é que essa destruição vem travestida de esquerda, de uma proposta libertadora. “É uma disputa ideológica não mais entre o Comunismo e o Capitalismo, mas entre liberdade e igualdade. A liberdade assumiu uma condição de tal maneira hegemônica que inibe a possibilidade da igualdade”, aponta.
“As eleições foram uma vitória. Não podemos esquecer onde estávamos há pouco tempo, no fundo do poço, à beira de consolidar um novo fascismo, assentado sobre uma base parlamentar corrupta, mafiosa, um setor militar que traz um resquício dos anos 60 e tutelados pelo grande capital internacional”, apontou.
A redução ou estagnação das prefeituras de esquerda se justifica, segundo ele, uma vez que o que se está lutando para manter é a governabilidade. Trata-se de uma vitória grande do ponto de vista de onde estávamos até a eleição e posse do presidente Lula, mas pequena se pensada sob a luz do que poderíamos ter feito. “Perdemos o primeiro turno, mas no segundo turno, fomos vitoriosos. Posso estar sendo otimista demais, mas é como me sinto e acho que é assim que devo me sentir para nos prepararmos para 2026, que será a prova dos nove da nossa democracia”, destaca.
Falta de diálogo
Apontada por muitos como o ponto fraco das esquerdas, a dificuldade em comunicar com parcelas da sociedade que são cooptadas pela extrema-direita têm como base, segundo o professor, um desafio ainda mais profundo: a inexistência de um real desejo de diálogo.
“Uma das características das novas tecnologias e, portanto, da nova sociedade que surge a partir delas, é o elemento narcisístico. O que nós temos são tecnologias que permitem e exaltam a nossa fala. A fala dos outros não interessa. Partidos políticos, tecnologias ou grupos dispostos a continuar falando diminuem cada vez mais”.
O programa Soberania em Debate, projeto do SOS Brasil Soberano, do Sindicato dos Engenheiros no Rio de Janeiro (Senge RJ), é transmitido ao vivo pelo YouTube, todas as quintas-feiras, às 16h. A apresentação é da jornalista Beth Costa e do cientista social e advogado Jorge Folena, com assessorias técnica e de imprensa de Felipe Varanda e Lidia Pena, respectivamente. Design e mídias sociais são de Ana Terra. O programa também pode ser assistido pela TVT aos sábados, às 17h e à meia noite de domingo.
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil