O governo Netanyahu não se importa com condenações morais. Mas, entra em pânico em face de sanções econômicas que afetem sua indústria bélica
por Chico Teixeira
Os serviços secretos do Estado de Israel após as explosões de pagers, ontem 17/09/2024) transformou, hoje, placas solares e walkie talkies em bombas! Até cemitérios e velórios foram atacados. O limite da decência na guerra, já abalado seriamente pela ação de 7/8 de outubro de 2023, do Hamas, foi definitivamente ultrapassado nas últimas 48 horas pelas ações do Ministro da Defesa de Israel, Yoav Galant.
Nada há que justifique moral, nem legalmente, ou que abrigue sob a denominação de Defesa e a Segurança, a morte e os ferimentos em massa da população civil libanesa, mesmo em nome de alcançar um reduzido número de combatentes – do Hezbollah. Que, aliás, não estão, até o momento, em guerra com Israel. O resultado são centenas de feridos e vários mortos – civis. O ataque massivo contra alvos civis, mesmo quando se quer destruir uma organização ou força inimiga, é crime de guerra! Tais ações são previstas como crime na Convenção de Genebra. No caso, trata-se claramente de terrorismo de Estado. Além disso, as medidas tomadas pelo governo Netanyahu-Galant são uma ameaça aos milhares de judeus que vivem pacificamente fora do Estado de Israel, e um chamado a uma inexorável revanche terrorista – como se ouvia hoje nas preces em Beirute: “-Responderemos ao Seu chamado, oh Senhor Hussein!” ( em alusão ao neto mártir do Profeta Mohammed e um dos fundadores do Islã xiita).
As ações criminosas – definidas como tal pelo reticente Tribunal Penal Internacional como violações do Direito Humanitário Internacional – do atual Governo de Tel Aviv resultará na convocação de centenas de “mártires” contra Israel e os judeus em todo mundo. A violência de Netanyahu, apoiado, diga-se claramente, tanto por Trump quanto por Harris, promove a erosão e o descrédito das organizações internacionais, incluindo ongs como “Médicos Sem Fronteiras”, cujos “social workers” são sistematicamente mortos em Gaza. O governo de Israel é, hoje, a maior fonte do irracionalismo antissemita e coloca judeus, israelenses ou não, sob grave risco. Netanyahu usa a guerra para manter-se no poder e escapar dos processos de corrupção e de crime de guerra do TPI, tudo ao preço de mais 1200 mortos israelenses e de 32 mil mortos palestinos, grande parte formada por mulheres e crianças. Para Netanyahu a paz representa a prisão e o confinamento. Agora, com Gaza em cinzas, Netanyahu-Galant querem se aproveitar do vácuo de poder em Washington, onde um presidente ausente e controlado pelo “deep state”, permite que a burocracia democrata-militarista dêem as ordens em direção a “escalar” a guerra na Ucrânia, criar uma situação bélica no Mar do Sul da China e, por fim, destruir o Irã, tudo em nome de barrar a política externa neo-isolacionista de Trump.
Num jargão vicioso consideram todo povo de Gaza, Cisjordânia, Jerusalém e os refugiados no Líbano e Síria como um “proxy'” do Irã. Como se dizia sob o nacional-socialismo dos judeus: não são um povo, uma nação. O atual governo de Tel Aviv pode, assim, demolir suas casas, tomar suas terras e, por fim, matá-los impunemente. Netanyahu, muito bem relacionado no Complexo Militar Industrial americano, concluiu, ante a paralisia física e moral de Biden, que é hoje a sua grande hora, enterrando com centenas de corpos as acusações contra ele. O preço da carreira de Netanyahu é similar aos grandes tiranos da história. A paralisia da ONU, perante os seguidos vetos americanos a qualquer solução justa, e a contínua colonização de Jerusalém e da Cisjordânia por parte do atual governo, aprofundam a crise e transformam o Oriente Médio – com o Irã, o Hezbollah e os Houthis – numa possibilidade de brutal escalada bélica.
O governo Netanyahu não se importa com condenações morais. Mas, entra em pânico em face de sanções econômicas que afetem sua indústria bélica. Assim, é de extrema relevância a decisão do Governo Lula em não adquirir armas naquele país!
*Chico Teixeira é historiador e professor titular da UFRJ
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil