Durante os dois primeiros governos Lula, a engenharia nacional deu provas, reiteradas vezes, de seu papel como ferramenta fundamental para o desenvolvimento sustentável do país. As maiores taxas de crescimento da nossa história recente foram, em boa parte, fruto de investimento na área tecnológica.
O início do terceiro mandato do presidente aponta para o mesmo caminho: estão anunciados grandes investimentos para programas e políticas de habitação, saneamento, energia, telecomunicações, produção agrícola, planejamento de transporte, petroquímico, entre outros setores que colocam a engenharia novamente no centro dos esforços pelo desenvolvimento do país.
O desafio, segundo o ex-presidente do Confea, Henrique Luduvice, é fazer com que tudo produzido neste cenário positivo seja apropriado pela população brasileira. “Precisamos reconhecer que a engenharia nacional não pode ser vista apenas pela ótica do corporativismo. Ela é elemento central na defesa da viabilidade de um projeto de país desenvolvido social e economicamente, garantindo a nossa soberania”, declarou Luduvice durante o programa Soberania em Debate do dia 11 de outubro.
Exemplos concretos
Para exemplificar o papel das engenharias no combate às desigualdades no país, Luduvice citou alguns projetos que tiveram um enorme impacto para os beneficiados, bem como desdobramentos em toda a cadeia produtiva: o Luz para Todos, Água para Todos e a transposição do rio São Francisco.
“A partir de um compromisso da Eletrobras, então empresa pública, levamos a populações a luz elétrica. Em pleno século XXI, elas não tinham acesso a uma tecnologia do final do século XIX.Como resultado disso, vimos os impactos na indústria e na geração de emprego, por exemplo, com a fabricação de postes, cabos, medidores, transformadores, lâmpadas e fios. Tivemos investimentos em usinas, em linhas de transmissão e subestações. A venda de eletrodomésticos também aumentou, uma vez que as pessoas passaram a ter acesso a bens que só funcionam com energia elétrica. Também houve impacto positivo no acesso à educação: com a iluminação, os trabalhadores puderam estudar à noite. Na saúde pública, refrigeradores passaram a congelar as vacinas usadas por comunidades ribeirinhas, aldeias indígenas e assentados rurais”, destacou Luduvice.
Já no que diz respeito ao acesso à água, tanto o Água para Todos quanto a transposição do rio São Francisco foram fundamentais: “O semiárido nordestino teve 385 impactados com a chegada das águas do São Francisco. A qualidade de vida se elevou, indicadores de desenvolvimento melhoraram bastante e houve uma redução na migração de pessoas para as periferias das grandes cidades. Vimos, inclusive, um movimento de retorno dessas pessoas para essas terras que haviam deixado”, relatou.
Terra arrasada após a Lava Jato
É consenso no mundo que a Operação Lava Jato foi um dos maiores escândalos éticos do judiciário brasileiro. Suas maquinações, em um perfeito exemplo de lawfare, já foram expostas. Buscando seu principal objetivo – culpabilizar o presidente Lula a todo custo -, a força-tarefa deixou para trás, além da vergonha nacional, um cenário de terra arrasada na engenharia brasileira.
Ao culpar empresas e não pessoas, a Lava Jato destruiu décadas de conhecimento acumulado que colocavam as grandes empresas brasileiras entre as principais do mundo. “Aqueles que compactuam com a corrupção devem ser punidos. As empresas, não. Empresas que geravam emprego e renda, faziam a competitividade no setor avançar, participavam e ganhavam licitações internacionais, levando a engenharia brasileira para o exterior, não podiam ser quebradas como foram. Isso aconteceu graças a uma visão medíocre daqueles que conduziam a operação sem nenhum compromisso com a área tecnológica e com o próprio Brasil. Todos os países que enfrentaram casos que envolveram corrupção tiveram o cuidado de preservar os trabalhos e as empresas para que continuassem competitivas”, aponta Luduvice.
O novo PAC, lançado pelo governo Lula em setembro deste ano, pode ajudar a reverter o cenário deixado pela Lava Jato. O programa inclui setores onde a engenharia nacional já mostrou sua competência no passado. O ex-presidente do Confea destaca, no entanto, que o Governo precisa se aproximar das entidades de engenharia neste momento. “O Sindicato dos Engenheiros, o Clube de Engenharia, a Fisenge e a Seaerj deveriam ter sido convidados para o lançamento do PAC no Rio de Janeiro. São entidades que há muito lutam pelo desenvolvimento nacional. O Estado acertou ao convidar a Firjan e o Sinduscon. São muito bem-vindos. Mas é preciso chamar as instituições de engenharia em todos os seus níveis, pois elas lutam há anos pelo desenvolvimento nacional”, destacou Luduvice.
> Soberania em Debate é realizado pelo movimento SOS Brasil Soberano, do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge RJ)
> Confira o Soberania em Debate com o engenheiro Henrique Luduvice, entrevistado pelo advogado Jorge Folena, da coordenação do SOS Brasil Soberano:
Texto: Rodrigo Mariano/Senge RJ
Foto: Brasil de Fato