Numa manhã do começo deste verão, no Rio de Janeiro, mais um crime com requintes de crueldade sádica ocorre na cidade. Desta feita, em um conhecido motel da Barra da Tijuca. Dois investigadores da polícia descobrem que o crime une mundos diferentes, até então paralelos: as grandes finanças do país e a cena noturna carioca. Drogas, grandes financistas, “gente bacana”, mulheres trans, igrejas e policiais corruptos emergem numa imensa teia de conspiração e mortes. “Corpo, cabeça” é um parêntese na atual crise brasileira, uma pausa para respirar, um momento de reflexão — O que ocorreu com as instituições brasileiras? Ao mesmo tempo aponta claramente para sentimentos coletivos, profundos, enraizados num inconsciente comum, sobre temas tornados superficiais, e muitas vezes tratados como banalidades. A violência cotidiana, endêmica, da sociedade brasileira contra toda diversidade – incluindo a cultura familiar do estupro – e a noção de que a corrupção é sempre um mal que atinge o Outro. O denuncismo transformado em gozo voyeur e esgotado em si mesmo, de forma inconsequente sem responder à questão básica: a quem serve a corrupção? No vídeo, o autor, Chico Teixeira lê trecho de “Corpo, Cabeça” (Ed. Autografia, 2018).
Sobre o autor:
Vencedor do Prêmio Jabuti em 2014, é professor titular de História Moderna e Contemporânea da UFRJ e do Programa Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa, Extensão e Intercâmbio em
Ciências Sociais aplicadas ao conhecimento do mundo rural e áreas afins, do CPDA/UFRRJ.