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Quinta-feira, às 16h

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Morre Theotonio dos Santos, uma história de luta contra a opressão econômica mundial

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O Brasil perdeu Theotonio dos Santos Júnior, mineiro de Carangola, economista e sociólogo, aos 82 anos. Até o fim um lutador em defesa da soberania, da transformação e da justiça social no país e no mundo, foi um dos formuladores da Teoria da Dependência, uma das concepções intelectuais mais importantes desenvolvidas na América Latina, que influenciou várias gerações de estudiosos brasileiros e os meios acadêmicos europeus e norte-americano. Foi também um dos principais nomes da Teoria do Sistema Mundo, desdobramento teórico que, entre os anos 70 e 80, apontou a divisão transnacional do trabalho em países centrais, com produção especializada e capital-intensiva, e periféricos e semi-periféricos, destinados ao trabalho pesado e à extração de matérias-primas.

Para o historiador Francisco Teixeira, um dos coordenadores do SOS Brasil Soberano, “a perda de um intelectual do porte e da trajetória de Theotonio dos Santos é, sem dúvida alguma, uma perda coletiva para a Nação, para todos aqueles se irmanam sob a bandeira do desenvolvimento, da soberania e da igualdade social.” A morte do economista, contudo, vai ainda além do imenso vazio intelectual que nos deixa. “Para minha geração, para mim mesmo, é uma perda da experiência de busca urgente por um Brasil melhor e mais justo para todos”, diz o historiador. “É um rompimento doloroso com uma memória de lutas, de um certo olhar generoso e calmo, sábio, sobre as tormentas passadas e atuais , de quem já viu muito. Essa experiência e sabedoria, para além dos livros, é a grande perda. Todos são substituíveis mas ninguém ocupa o lugar de uma experiência vivida de forma intensa e tranquila, como foi por Theotonio dos Santos. É essa a orfandade de uma geração que teremos que herdar, tomará que com a mesma força e persistência que ele pontua sua vida e sua obra.”

O economista e professor na UFPA Claudio Puty também registrou a “tristeza” pelo falecimento de Theotonio dos Santos, “intelectual engajado e radicalmente comprometido com a libertação da América Latina”, escreveu. “Foi testemunha viva dos últimos 60 e tantos anos de tantas lutas e veias abertas de nosso continente”, continua em nota divulgada nas redes. “Mencionaria a fundação da Polop (Organização Revolucionária Marxista Política Operária), a consolidação da UNB – onde com Vânia Bambirra, Ruy Mauro e André Gunder Frank – contribuíram com a interpretação das relações econômico e políticas que reproduziam o nosso subdesenvolvimento, o exílio no Chile de Allende e no México, a militância junto a Brizola no PDT. O pouco (re)conhecimento de sua obra no Brasil, contrasta com a importância de sua contribuição e de seus companheiros acima mencionados. Parte em péssima hora, mas teremos seu exemplo e memória para nos acompanhar na longa estrada à frente.”

Militante pelo país, Theotonio dos Santos foi um dos primeiros demitidos da UnB por Severino Vaz, interventor da ditadura militar (1964-1985) na universidade. Mestre em Ciência Política pela UnB e doutor “notório saber” pela UFMG e pela UFF, era professor emérito da UFF, pesquisador nacional sênior da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e presidente da Cátedra e Rede da UNESCO sobre "Economia Global e Desenvolvimento Sustentável" – REGGEN.

Em 2012, escreveu a Fernando Henrique Cardoso uma resposta à carta aberta crítica que o ex-presidente havia dirigido a Lula. Desconstruiu neste texto a gestão do tucano, em especial a valorização forçada da moeda que resultou na crise de 1999. Intelectual orgânico e comprometido com o fim da subordinação econômica global, continuava no combate para tirar o Brasil do empobrecimento imposto pelas nações centrais.

Em abril de 2014, durante palestra no Instituto de Estudos LatinoAmericanos (Iela), destacou a “ideia de Pátria Grande, que mobilizou milhões de pessoas pela independência do país; uma vitória, há 200 anos, quando derrubamos duas potências que dominavam a região, numa guerra muito dura, num processo revolucionário; ali se sentiu vontade de criar uma pátria grande e que reunificasse a América Latina.” Os recursos “potenciais, gigantescos” do Brasil, afirmou então, “são hoje utilizados a serviço de um poder colossal que usa nossas riquezas inclusive como instrumento de poder para nos dominar”.

O movimento SOS Brasil Soberano lamenta o falecimento de Theotonio dos Santos e registra seu reconhecimento e agradecimento por sua inestimável contribuição ao país e ao mundo.

Theotonio, presente!

(Visite o http://theotoniodossantos.blogspot.com.br/ para conhecer a vida e a obra de Theotonio dos Santos Jr.)