Francisco Teixeira*
É chegado um tempo limite. Estamos na fronteira da decência.
Temos que ousar erguer nossas cabeças acima do mar de indignidade que tomou de assalto o Brasil a partir do Palácio do Planalto!
O País não merece!
O Povo não merece!
Nossa História é maior que os homens sem qualidades que assolam a honra dos heróis que ergueram e assentaram as pedras que, agora, essas figuras sem pudor pisam.
A História do país foi feita de lutas e sacrifícios – de todos.
Há exemplos maiores.
Hoje, no entanto, homens – e em especial um homem — avacalha (e pensei muito em usar tal palavra) o que há de mais sagrado nos valores da Pátria Grande. É preciso, mais do que nunca, dizer em bom som que o Brasil tem valores de grandeza a serem respeitados.
Quem tem honra não se cala!
Qual a lição que ficará na História dos dias que se vive?
Ou todos os livros terão suas páginas rasgadas e censuradas deste período que vivemos?
Saltaremos sobre brasas vivas os “Anos da Ignomínia”?
Diremos, como no passado dos países execrados, que não sabíamos ou que simplesmente cumprimos ordens?
Ou escolhemos entre dois males, a vergonha menor? Essa foi a trágica resposta recusada pela história em Roma, 1922; em Berlim, 1933; em Madrid, 1936.
Sempre temos “outras” escolhas, sempre podemos dizer não, ninguém é mais livre que um homem acorrentado.
E por enquanto ainda somos homens livres.
Como diremos ao amanhã que, ainda livres, vivemos no silêncio um tempo em que “Os Sertões” ou “Memórias Póstumas de Brás Cubas” eram recolhidos das bibliotecas? Que ficamos em silêncio anticívico ante tal barbaridade?
Na reabilitação de presos, proibimos Albert Camus, paradigma da civilização, com medo de que uma maioria de presos – negros, pardos, pobres, periféricos – se perguntasse: qual o sentido da nossa Existência?
O que estamos fazendo quando Paulino, Firmino e Roberto Guajajara e outras dúzias de índios são assassinados e permitimos que pessoas que nada sabem sobre os povos ancestrais abram suas terras e suas matas para projetos que envenenam os rios e derrubam e incendeiam as matas?
Ou as matas são só um Powerpoint?
Até quando?
O que diremos quando as crianças do amanhã nos perguntarem: o que eram os índios?
Diremos que eram pessoas que “evoluíram”
e desapareceram nas ruas poluídas das grandes cidades?
Ou as páginas dos livros serão “suavizadas”? Todos os índios serão substituídos por tratores, colheitadeiras e campos e campos de eucaliptos?
Assistiremos calados à destruição de 50 anos de sistema de pesquisa, ciência e tecnologia ser destruído num mundo de cada vez mais competição informacional?
Estaremos calados com um louco de vaudeville & cabaré semialfabetizado conduzir a Educação Nacional ao precipício?
Quando o sistema nacional de educação não mais existir – uma criação coletiva de brasileiros desde os anos de 1950 até 1970 -, o que se responderá aos jovens expulsos e recusados pelo moderno mundo digital?
Nós estávamos lutando contra os “bolivarianos” e por isso destruímos a Educação brasileira, deixando um analfabeto no posto de comando?
O que será dito aos jovens quando as grandes cidades, abarrotadas de semi-empregados, especialistas em “bolo em pote” e “entrega rápida” em bicicletas alugadas? Quando estiverem à mercê de epidemias de AIDS, porque os programas de prevenção não podem mais ser veiculados por força de um Ministério da Saúde que é um feudo neopentecostal?
Ou por aceitarmos que vacinas obrigatórias não devem ser programas oficiais… Ou que Geografia, Biologia, História devem ter seus programas e livros didáticos vigiados nas escolas, onde o corte de cabelo, o vinco da calça, a formação em ordem unida são mais importante do que o livre debate e o preparação para o raciocínio complexo?
Piaget, Montessori, e claro, Paulo Freire, e sem dúvida tal qual no século XIX, Charles Darwin, são tragados pelo rigor integrista de quem nunca leu um livro, e as ideias criacionistas e terraplanistas ocuparão o espaço das Ciências no currículo escolar.
Caminhamos em passos largos, talvez em passo de ganso, para o passado, enquanto o mundo, e seus jovens, avançam para um mundo melhor.
Mas não precisa ser assim.
O Brasil tem valores. O Brasil tem exemplos. O Brasil tem homens de honra.
Podemos buscar na história exemplos de dignidade.
Ruy Barbosa pensou uma grande Reforma Educacional para este país – buscou na Europa, na Grã-Bretanha, o modelo de modernidade, tendo como pontos fundamentais a laicidade total do Ensino, gratuidade e sua obrigatoriedade geral no Brasil. Isso em 1883.
Os ideais de Ruy, no entanto, são hoje traídos e sua própria “Casa” ocupada.
Temos que retomar os valores do Brasil.
O país não merece que a Educação seja entregue a arrivistas e despreparados.
Temos que retornar ao Grande Marechal Rondon: “Morrer se preciso for, matar jamais!” – esse é o espírito de comunhão com nossos irmãos ancestrais que jamais poderia ter sido esquecido!
Estes são os valores a serem passados às novas gerações, nosso tesouro e obrigação comum!
Viva o Marechal Rondon!
Viva Ruy Barbosa!
* Francisco Carlos Teixeira é historiador, e coordenador do Movimento SOS Brasil Soberano. Prêmio jabuti 2014.