Cientistas, estudantes, professores, pesquisadores e técnicos de universidades e institutos públicos criaram a campanha de mobilização social Conhecimento Sem Cortes, para denunciar o desmonte das universidades e instituições de pesquisa que vem sendo promovido com as drásticas reduções no orçamento das áreas de ciência, tecnologia e humanidades. Para acompanhar o enxugamento dos orçamentos, o site da campanha criou um “tesourômetro”, painel eletrônico que mostra, minuto a minuto, o impacto em reais dos cortes de financiamento federal para as áreas de ciência, tecnologia e humanidades, tendo como referência o orçamento federal aprovado para 2015. Desde então, já foram cortados R$ 11,588 bilhões.
De acordo com cálculos do economista Carlos Frederico Leão Rocha, professor do Instituto de Economia da UFRJ e vice-presidente da Associação dos Docente da UFRJ (Adufrj-SSind), os cortes em 2017 serão de R$ 4,3 bilhões, que representa uma perda de quase R$ 12 milhões por dia, R$ 500 mil por hora ou mais de R$ 8 mil por minuto. Ou uma perda de cerca de 50% do total de financiamento para a produção de conhecimento nesses dois anos.
Para chegar a este total, os cálculos incluíram montantes de cortes no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), das Universidades Federais (inclusive Institutos Federais) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) – sem incluir os salários e outros gastos obrigatórios.
“A instalação do tesourômetro dá início a uma série de atividades de engajamento e discussão que vamos promover dentro e fora dos muros das universidades e instituições de pesquisa para mostrar como os cortes de investimentos afetam de forma negativa os mais diversos setores da sociedade”, diz Tatiana Roque, presidente da Adufrj.
Para Helena Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que participou das atividades de lançamento da campanha, os impactos dos cortes que já estão sendo sentidos pelos cientistas hoje serão ainda mais percebidos pela sociedade no longo prazo. “Esses cortes ameaçam o futuro das novas gerações. As perdas para a sociedade são irreversíveis.”
A campanha Conhecimento Sem Cortes vai dialogar e buscar apoio da população para pressionar o governo federal a garantir condições plenas de funcionamento das universidades e instituições de ensino e pesquisa. “Queremos valorizar os frutos dos investimentos em pesquisa, nas suas diversas áreas, e destacar como são essenciais no dia-a-dia das pessoas, mesmo que muita gente não se dê conta”, completa Tatiana, lembrando de descobertas importantes para o desenvolvimento econômico e social do país realizadas por cientistas brasileiros, como a correlação do zika vírus com a microcefalia ou a contagem precisa do número de neurônios do cérebro humano.
No site da campanha há também um link para qualquer um que queira assinar petição pública contra o desmonte do setor de ensino e pesquisa, exigindo:
. A garantia do pleno funcionamento das universidades públicas e dos institutos de pesquisas
. A garantia da continuidade de bolsas de estudo e políticas de permanência para estudantes nas universidades, especialmente cotistas
. A retomada de investimentos em ciência, tecnologia e pesquisa nos mesmos patamares de 2014;
. A retirada de Educação e Saúde do teto de gastos imposto pela Emenda Constitucional 95
A campanha é realizada pela Associação dos Docente da UFRJ (Adufrj-SSind), Associação dos Docentes da UNB, pelo Sindicato dos Trabalhadores do Instituto Fedeal do Rio de Janeiro (Sintifrj), do Sindicato dos Professores de Universidades Federais de Belo Horizonte, Montes Claros e Ouro Branco, do Sindicatos dos Servidores da Fiocruz, entre outras entidades.