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Quinta-feira, às 16h

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Ipea aponta aumento do abismo entre pobres e ricos

Foto: nelson390/Pixabay

Além do aumento de pessoas sem trabalho, estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) mostra que cresce também o abismo entre mais pobres e mais ricos no país. A renda domiciliar da classe mais alta é agora cerca de 30 vezes maior do que a da faixa mais baixa, informa a análise publicada na Carta de Conjuntura do segundo trimestre.

“Enquanto a faixa de renda domiciliar muito baixa e baixa apresentaram taxas de crescimento interanual de 0,10% e 0,44%, respectivamente, a faixa de renda domiciliar mais alta registrou variação de 2,5%”, informa o estudo,que utiliza dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do IBGE.

A maior distância entre os extremos das faixas de renda deriva do cenário de economia estagnada. A proporção dos domicílios sem renda do trabalho voltou a crescer, passando de 22,2% no último trimestre de 2018, para 22,7% no primeiro trimestre de 2019.

A desigualdade salarial entre todos os segmentos pesquisados só teve um modesto recuo porque, em relação aos demais domicílios, os dados desagregados de rendimentos (deflacionados pelo Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda) indicam que, de janeiro a março deste ano houve maior aumento da renda das faixas intermediárias. As faixas de renda domiciliar média-baixa, média e média-alta apontaram incrementos de 2,4%, 5,3% e 3,0%, nesta ordem.

Desemprego
No que diz respeito à desocupação, nota-se que vem crescendo o número de desempregados que estão nesta situação há mais de dois anos. Se, no primeiro trimestre de 2015, 17,4% dos desocupados estavam nessa situação, no mesmo período de 2019, essa porcentagem avançou para 24,8%, o que corresponde a 3,3 milhões de pessoas.

A desagregação das informações, feita com base nos microdados da Pnad, registra que, no primeiro trimestre de 2019, a proporção de desempregados há mais de dois anos era maior entre as mulheres (28,8%), entre os adultos com mais de 40 anos (27,3%) e entre os trabalhadores com ensino médio completo (27,4%). Mas a análise dinâmica dos dados revela que, na comparação com o primeiro trimestre de 2015, o maior incremento nas populações desocupadas há mais de dois anos atingiu
os grupos dos homens, dos trabalhadores mais jovens e daqueles com ensino médio completo, cujas proporções saltaram de 11,3%, 15% e 18,5%, respectivamente, para 20,3%, 23,6% e 27,4%. No caso dos trabalhadores mais jovens, esse resultado acaba por corroborar um cenário de emprego ainda mais adverso, que combina desemprego elevado (27,3%), baixo crescimento da ocupação (0,4%) e queda de rendimento real (-0,8%).

Reforma trabalhista
O trabalho do Ipea é extenso, com recortes por região, idade, gênero, avaliando, inclusive a incidência dos contratos intermitentes (que podem ser feitos com valores inferiores ao salário mínimo)e parciais, instituídos pela reforma trabalhista e que acarretam a precarização da qualidade de vida dos profissionais. Segundo o Caged, diz o estudo, de novembro de 2017 a abril de 2019 foram abertas 507.140 novas vagas de trabalho, das quais 58.630 foram contratos de trabalho intermitente e 19.765 de trabalho parcial. Ou seja, juntas, estas duas modalidades foram responsáveis por 15,5% do total de empregos com carteira gerados no país.

Na desagregação dos dados, observa-se que, de uma maneira geral, essas vagas de trabalho intermitente e parcial seguem o perfil das demais vagas criadas pelo Caged, ou seja, geradas basicamente nos setores de serviços e comércio. No caso do trabalho intermitente, 49,2% do saldo de vagas criadas no período foram alocadas no setor de serviços – especialmente nos segmentos de alimentação e transportes – e 27,6% no comércio. Em relação aos contratos com jornada parcial, 56,8% foram firmados no setor de serviços, principalmente nos segmentos de educação e alimentação, e 29% no comércio.

As estatísticas por gênero mostram que, enquanto a maioria das vagas de trabalho intermitentes foi destinada aos homens (63,6%), as mulheres formam a maior parcela dos empregados com contratos parciais (60,7%).

Contrabando ideológico
O trabalho do Ipea não indica nenhum sinal de retomada da atividade econômica capaz de promover uma queda expressiva do desemprego, das formas de subutilização do trabalho e da desigualdade.

Estranha, ainda, que o instituto tenha condicionado, no sumário do trabalho, a melhoria do cenário à reforma da Previdência, sem indicar, na análise, nem a fonte dos recursos nem o cálculo capaz de justificar a expectativa.

Clique abaixo para ler o trabalho completo
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/conjuntura/190618_cc_43_mercado_de_trabalho.pdf