CARTA ABERTA dos docentes do Liceu Nilo Peçanha
Queremos esclarecer que foi com grande consternação que recebemos a notícia da exposição pública da nossa professora de História, Valéria Borges. Assistimos, com muita tristeza, ataques dos mais absurdos, cruéis, preconceituosos a uma professora com quase trinta anos de dedicação ao magistério e com um trabalho de competência e resistência reconhecido pela comunidade escolar.
Os princípios que regem a ação de um vereador que divulga nas redes sociais a gravação de uma professora em seu fazer pedagógico, tal qual uma denúncia criminal, estão afinados com os pressupostos dos que defendem uma escola amordaçada, com censura, sem nenhuma pluralidade, ou seja, uma escola resumida à repressão e ao medo.
O aspecto mais aberrante da proposta deste modelo de escola é justamente demonstrar que a suposta neutralidade esconderia o que eles mesmos propõem: um projeto de escola de pensamento único, da ideia única e até do partido único. Se a escola não está aberta ao contraditório, ela também não está aberta à ciência, à criatividade, à liberdade.
Um dos princípios fundamentais da escola democrática é a iconoclastia, ou seja, a desnaturalização do mundo social, demonstrar a diversidade de posições da sociedade, investigar como surgem ideias e analisar pressupostos políticos e processos sociais, práticas estas defendidas no debate coletivo pela construção do nosso Projeto Político-Pedagógico no início deste ano letivo. No entanto, quando um projeto de lei, como o Escola Sem Partido, propõe um número de punições que ataca a liberdade de ensinar, punem-se também os princípios da criação e do respeito às diferenças. E nós, do Liceu Nilo Peçanha, historicamente prezamos muito esses valores.
Reforçamos que a escola é o espaço onde desmoronam os castelos das verdades absolutas ou insistentemente repetidas. A escola tira a gente do lugar comum e problematiza as perspectivas de mundo. A vocação da escola é criar, e a criação só se afina com a autonomia. No caso específico da nossa professora, alvo de todo este ataque, lembramos os motivos pelos quais a História figura entre as disciplinas escolares: não há História sem questionamento do que achamos que é natural na vida em sociedade, não há História sem pensamento crítico, não há História sem liberdade de ensinar.
Contra o ataque à autonomia pedagógica, contra a escola do medo e da mordaça!
"De tal forma que chegará a um momento no futuro onde os fascistas chamarão a si mesmo de antifascistas" Winston Churchill.
Assinam:
Alcione dos Santos
Aldisa Alves
Alessandra Molissa
Ana Marcia Ferreira
Ana Maria Figueira
Anderson Moraes
Angela Filomena Palermo do Valle
Angela Maria Oliveira de Carvalho Santos
Angela Villas Boas
Aurimar Baunilha
Bianca Freitas
Carla Mariana de Souza
Caroline Lemos
Cecília Braga
Cláudia Pessi
Cláudio Pires
Cristina de Almeida
Cristina Esteves
Cristina Rocha
Daline Gerber
Daniela Braga
Denise Rocha de Almeida
Eduardo Braune
Eliana Cunha
Fatima Borges
Felipe Filósofo
Fernanda Lobo dos Santos
Gabriela Silva
Glória Costa
Igor Pinheiro
Jader Cristiane Ramos
Jane Almeida
Jorge Gonzaga Filho
Leandro Monteiro
Leandro Silveira
Ludmila Gama Pereira
Luis Antônio Lopes
Luiz Eduardo de Oliveira Ferreira
Marcia Arruda
Marcio Lannes e Silva
Maria Cristina Esteves Pereira
Maria José Rique
Maria Silvia Gomes dos Santos
Mariana da Silva Azevedo das Neves
Marilucia Corel
Marta Nobre
Natália Pereira
Paulo Roberto dos Santos
Renato Lanna
Ricardo Lucena
Silvana Siqueira
Tania Maria Curcino Abreu
Tatiana Elizabeth
Valéria da Silva Trajano
Veronica Claudino