Em seu perfil no Facebook, Gilberto Carvalho, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, analisou o #OcupaBrasília, ato que mobilizou cerca de 200 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, no dia 24 de maio, contra o governo e as reformas da Previdência e trabalhista. Reprimido com grande violência – com balas de borracha, bombas de gás, e tiros de armas letais – , o protesto também registrou a ação direta de manifestantes adeptos da tática black bloc. Para o ex-ministro, o decreto que acionou as Forças Armadas contra “100, 200 black blocs e provocadores” as expôs ao “ridículo”. Mas ele destaca que é preciso achar uma saída para lidar com grupos ‘radicais’ e os provocadores infiltrados neles. Confira a avaliação na íntegra.
Avaliação de Gilberto Carvalho:
“Pessoal, partilhando algumas reflexões sobre hoje (24). Estive desde cedo na concentração e fiquei até o final. Antes de tudo precisamos disputar a versão da GRANDE VITÓRIA que foi realizar um ato desta dimensão, UNITÁRIO, apesar dos problemas de sempre, mas muito vigoroso. Nunca vi nada igual em Brasília. Até a chegada à frente do Congresso, apesar do absurdo da tentativa de revista, um pouco de tensão, mas tudo festa e muita garra. Mal chegávamos à frente do Congresso, começa a confusão. O grande contingente ainda estava pra cima da rodoviária, quando começam os primeiros enfrentamentos, apesar de os dirigentes insistirem o tempo todo pra que ninguém chegasse às grades e não entrassem na provocação e denunciassem a ação de provocadores. Não tivemos UM minuto de paz, de poder celebrar aquele momento vitorioso e [em que] se pudesse orientar os próximos passos da luta. Bomba e gás o tempo todo, a massa indo e vindo, resistindo heroicamente (senti na pele e nos olhos a desgraça desta merda de gás). O pessoal da direção aguentando não sei como. Enquanto isso, a mulecada “Black bloc”praticando seu esporte preferido da provocação inútil, e a polícia praticando seu esporte preferido que é mandar bomba, dispersar nossa gente. Seria enorme ingenuidade nossa não ver que disfarçados de jovens radicais os infiltrados provocadores procuravam destruir nosso ato e sua repercussão. Suspeita a ausência de qualquer proteção policial aos Ministérios. Os muleques passavam apedrejando e com pedaços de pau quebrando vidros, queimando as coisas sem que ninguém os incomodasse. Enquanto isso, nossa massa recuava e voltava, olhos ardendo, resistente. Bastava começar a recompor-se a plateia diante dos caminhões, novas bombas, novo gás e a “mulecada“atirando rojão, paus e pedras contra a polícia, que generosamente devolvia com bombas sobre…nossa gente. É claro que os serviços de informação sabiam disso e ajudaram a criar este clima. E aí vem o tal decreto absurdo e ridículo da Lei e da Ordem [GLO] pra reforçar esta visão da baderna que Eles fizeram e dar ao Temer uma chance de mostrar ao establishment que governa e pode continuar a cumprir o receituário prescrito desde o golpe. Decretar uma GLO contra 100, 200 black blocs e provocadores deles é tão ridículo, expõe as Forças Armadas a andar por Brasília, que a estas horas voltou à sua vida pacata, que deveria despertar nos Comandos um senso de ridículo e eles mandarem o Temer deixar de menosprezar o papel das Forças Armadas…. Não podemos deixar de reagir duramente a essa loucura deste pseudo governo que agoniza à espera de uma saída costurada por cima, que nós haveremos de inviabilizar pela continuidade de atos como o de hoje, em nova greve geral e massivos atos pelas diretas. Para concluir esta longa conversa, nós vamos ter que achar uma saída para esta difícil relação com os grupos “radicais” que utilizam nossos atos para seus “exercícios” e são um prato feito pra todo tipo de infiltração e provocação. Uma coisa é frente com diferentes, é discutir e aplicar táticas mais ou menos radicalizadas, múltiplas, outra é servir de suporte pra esses caras aplicarem suas “táticas”, e a gente ficar de trouxas, só levando bomba e vendo se dispersar um ato que custou tanto empenho de unidade e que, se não fossem estes irresponsáveis, teria a chance de realizar um plano, este sim consequente, de expressão de radicalidade, que teve que ser abortado por conta destas provocações…”