A formação de clusters industriais e a adoção de gestão compartilhada em projetos que mobilizem recursos públicos, como aqueles desenvolvidos pela Petrobras, são as propostas para o desenvolvimetno do país feitas pelo engenheiro naval Alan Paes Leme Arthou, durante o II Simpósio SOS Brasil Soberano, no dia 27 de abril, em Salvador (BA). “Se o nosso objetivo é ter maior igualdade social e distribuir riqueza, temos que produzir a riqueza”, diz. “E a indústria, junto com a engenharia, é o ponto vital para isso.”
Ele reconhece, contudo, que a indústria instalada no país não está conseguindo contribuir o bastante para melhorar as condições econômicas da população. Embora tenha a oitava maior economia do mundo, o Brasil está em 62º lugar em qualidade de vida – e também em distribuição de energia; e em 72º, em renda per capita.
O baixo teor tecnológico, diz Arthou, é o principal motivo da fragilidade industrial brasileira. E tem raízes históricas. Na década de 50, ainda um país agrário, o Brasil implantou políticas de incentivos para atrair indústrias estrangeiras, que de fato vieram e continuam aqui. “Viramos hospedeiros de indústrias. As empresas vêm porque existe mercado interno, mas em nenhum momento pensam em exportar a partir do território nacional; não vão instalar fábrica local para concorrer com sua matriz.”
Para o engenheiro, um programa de afirmação nacional deve estar buscar qualificar e aumentar o nível tecnológico das indústrias – “independentemente de serem empresas privadas ou estatais”. O desafio é visível nas exportações brasileiras, nas quais dominam os produtos agrícolas e minerais. Setores que, por sua vez, são mantidos basicamente por equipamentos importados.
“Não desenvolvemos tecnologia”, afirma Arthou, que defende um papel de indutor para o Estado, coordenando projetos capazes de gerar inovação e inteligência na produção local. “Chegamos a uma encruzilhada em que vários países emergentes, da Ásia e da África, estão começando a produzir os bens que fazemos aqui, mas com menos custo, salários mais baixos. Não vamos conseguir competir com eles; só melhorando tecnologicamente, até um nivel em que não nos alcancem.”
Nesse sentido, destaca a importância das empresas que atuam nos grandes projetos de infraestrutura, atingidas por denúncias de corrupção. “Deve-se punir os responsáveis pelos crimes, não as empresas, formadas por seus operários e técnicos”, defende. Uma alternativa para preservar a base industrial disponível e orientar investimentos públicos no futuro seria, na opinião do engenheiro, a adoção da gestão compartilhada dos projetos. Nestes casos, toda a gestão dos contratos é controlada por um grupo integrado por representantes da empresa contratante e do governo, em modelos que podem incluir até contas específicas para a execução dos orçamentos.
Ao contrário do que pregam por aí os que sofrem do complexo de “cachorro magro”, alerta o engenheiro, o Brasil é um país de alta produtividade. Naturalmente, se o PIB industrial for dividido pela quantidade de pessoas que trabalham, ou pela renda per capita, teremos um índice baixo em relação a outros países, porque o valor do que é produzido em economias, de maior teor tecnológico, tem mais valor. “Basta ver exemplos de empresas como a Web, a Embraer, ou as exportações de uma série de carros de combate para o Iraque. Há uma série de indústrias que deram certo. Produtividade nós temos.”
Dentre os vários setores que tiveram experiências bem-sucedidas, Arthou cita a indústria naval – o Brasil chegou a ser o segundo maior produtor de navios no mundo, na década de 70, quano o segundo de Plano de Construção Naval previu, e realizou, a construção de mais de 800 navios. Um segmento, contudo, de perfil montador, que só funciona com o cluster, ressalta. “Não tem sentido haver muitas indústrias reunidas para suportar um único estaleiro”. É um setor que precisa ter caráter regional. E, nesse sentido, ele observa que as cidades do Rio de Janeiro e de Salvador com suas largas baías, além da experiência no setor petrolífero – especialmente a capital baiana, seriam bastante propícias à formação de clusters de estaleiros.
Os cluster são importantes para o desenvolvimento industrial e também tecnológio, gerando o que o engenheiro chama de eficiência coletiva. “As escolas técnicas, públicas ou privadas, são voltadas para aquele serviço específicos, tudo fica mais fácil”, diz. Cita, além do setor naval, o polo calçadista de Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul, ou de Franca, em São Paulo. “Os fabricantes de calçados enfrentaram todas as crises econômicas. Quando chegaram os concorrentes chineses, e a produção precisava ser de massa, eles se uniram. Quando a ameça se desfez, se subdividiram de novo. É um rede flexível.”