Nós, da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge) e dos sindicatos que subscrevem esse manifesto, repudiamos alterações no Censo Agropecuário Nacional de 2017, propostas pela Diretoria de Pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O corte de 60% das perguntas do questionário coloca em risco o mapeamento da realidade do campo brasileiro, em especial no que diz respeito à agricultura familiar.
Entre as questões retiradas do cadastro estão as relacionadas ao uso de agrotóxicos e ao valor e quantidade da produção da agricultura familiar. O argumento utilizado é o de agilizar a coleta de dados, com redução do tempo médio de entrevista de 90 para 40 minutos. O número de recenseadores temporários cairá para 26 mil, quando originalmente foi estimada a contratação de 80 mil trabalhadores. Os cortes refletem no orçamento, cuja previsão inicial era de mais de R$ 1 bilhão. Já o valor aprovado ficou em R$ 505 milhões.
Fragilizar o levantamento da realidade da agricultura familiar significa uma opção do governo brasileiro por reduzir o Censo Agropecuário aos interesses da agricultura empresarial. Ficará de fora a diversidade do mundo rural, para além das cercas dos maiores proprietários e do monocultivo. Em detrimento desse interesse, a maioria da população do campo – que responde por mais de 70% da produção nacional de alimentos – terá seus processos de desenvolvimento mapeados de forma precária.
Como consequência dessa possível mudança no Censo, não haverá o reconhecimento completo da produção, para além da realidade nos marcos do latifúndio e da produção de commodities. A diversidade social, econômica, produtiva e tecnológica da produção agrícola brasileira ficará de fora das estatísticas oficiais do governo federal, o que fatalmente irá impactar na continuidade ou no desenvolvimento de políticas públicas para essa parcela da população.
Nos somamos à análise do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE (ASSIBGE), da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), os Grupos e dos Laboratórios de Pesquisa em Geografia, Economia e Ciências Humanas e Sociais, de que a alteração prejudicará a continuidade do levantamento de dados, com o falso mapeamento dos setores agrário e agrícola e consequentes prejuízos à ciência nacional. Com base no apresentado até aqui, nos posicionamos favoráveis à continuidade da versão anterior do Censo Agropecuário e, portanto, contrários ao desmonte proposto pelo governo federal.
18 de abril de 2017
Assinam:
– Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge)
– Sindicato dos Engenheiros do Paraná (Senge-PR)
– Sindicato dos Engenheiros de Pernambuco (Senge-PE)
– Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro (Senge-RJ)
– Sindicato dos Engenheiros Agrônomos do Rio Grande do Norte (SEA-RN)
– Sindicato dos Engenheiros de Sergipe (Senge-SE)
– Sindicato dos Engenheiros Agrônomos de Santa Catarina (Seagro-SC)
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