Pelo menos nove pessoas foram assassinadas na última quinta-feira (20) em uma comunidade de agricultores no município de Colniza, no Mato Grosso. Segundo nota divulgada pelo bispo emérito dom Pedro Casaldáliga e pelo bispo dom Adriano Ciocca Vasino, da Prelazia de São Félix do Araguaia, as famílias da Gleba Taquaruçu, onde se acredita tenha ocorrido o crime, sofrem violências desde 2004, quando a Cooperativa Agrícola Mista de Produção Roosevelt ganhou na Justiça a reintegração de posse da terra. Os bispos também alertam para o risco de novas mortes e cobram punição para os criminosos.
“Sabemos que na região existem outros conflitos de extrema gravidade, como o da fazenda Magali, desde o ano 2000, e o conflito na Gleba Terra Roxa, desde o ano de 2004”, diz a nota. “A população teme que outros massacres possam acontecer.” No município de Colniza, que já foi considerado um dos mais violentos do país, houve outros dois assassinatos em 2014; e mais três em 2007, quando pelo menos outros dez agricultores foram vítimas de tortura e cárcere privado.
“Vivemos um clima de ‘Terra sem lei’, uma verdadeira guerra civil em nosso país”, alerta a nota da Prelazia de São Félix do Araguaia. “Como consequência, o ano de 2016 foi o mais violento dos últimos 13 anos, apontando para uma perspectiva desoladora no campo. E esta situação de Colniza, onde assassinaram inclusive crianças, nos expõe diante dos objetivos de ruralistas que não temem nada para conseguir as terras que buscam.”
Até o início da noite da sexta-feira (21), a Polícia Civil não tinha confirmação de idade ou sexo dos mortos. A principal suspeita
apontava para pistoleiros, contratados por interessados nas terras dos agricultores, segundo informava, às 17h45, o site MídiaNews, de Cuiabá. Denunciadas por um empregado nas barcas que operam na região e por policiais de distritos vizinhos, as mortes teriam ocorrido no dia 20, possivelmente a 8 km da Gleba Taquaruçu. O local é de difícil acesso, com estradas fechadas por mato, e sem comunicação, a 250 quilômetros da sede do município de Colniza.
A nota da Prelazia acusa o governo de Michel Temer de estar fomentando a violência contra os pobres no campo, propondo medidas que retiram direitos das populações tradicionais. “Este massacre acontece num momento histórico de usurpação do poder político através de um golpe institucional, com avanços tão graves na perda de direitos fundamentais para o povo brasileiro que coloca o governo do atual presidente Temer numa posição de guerra contra os pobres, isso refletido de forma concreta nos projetos, como as Medidas Provisórias 215 e 759, que violam direitos dos povos do campo e comunidades tradicionais, como também no acirramento do cenário de violações contra as/os defensores de direitos humanos. Diversos políticos expõem abertamente seus discursos de ódio e incitação à violência contra as comunidades que lutam pelos seus direitos.”
No Brasil, em 2017, já foram dez assassinatos no campo, de acordo com a Comissão Pastoral da Terra; e 61, em todo o ano de 2016. No Mato Grosso, são 6.601 famílias em áreas de conflitos agrários, ameaçados por latifundiários da pecuária, da extração de madeira e de empresas mineradoras. A área onde fica o assentamento atacado, em Colniza, sofre forte pressão de grileiros e reúne cerca de cem famílias.
LEIA AQUI NA ÍNTEGRA A NOTA DA PRELAZIA DE SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA