Resultado do PIB reflete supersafra de soja e não aponta melhorias para trabalho e renda

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O crescimento de 1% no Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2017, em relação ao quarto trimestre de 2016, anunciado nesta quinta-feira (1º) pelo IBGE, não garante nem recuperação econômica nem geração sustentável do emprego, avalia a supervisora técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Rio de Janeiro, Jessica Naime. Segundo a coordenadora das Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, a principal responsável pelo resultado do PIB foi a agropecuária, setor que experimentou uma supersafra de soja e que cresceu 13,4% em relação ao trimestre imediamente anterior. “Em 2017, a agropecuária mostra um ótimo desempenho, que ainda contrasta com uma base deprimida em 2016, quando esse setor havia recuado 6,6%.”

Jessica, do Dieese, observa que, de modo geral, os dados mostram que o aumento do PIB está bastante atrelado aos setores primários – agronegócio (13,4%) e exportações (1,9%), principalmente de itens extrativo-mineirais –, que oferecem baixo retorno para a melhoria das condições econômicas dos trabalhadores. “Não é a população que está consumindo e se beneficiando”, diz ela.

Ela também destaca que a própria base de comparação do PIB está rebaixada, resultado de quedas ininterruptas desde o último trimestre de 2014. Comparado ao primeiro trimestre de 2016 (e não ao trimestre imediatamente anterior), o PIB recuou 0,4% e, no acumulado dos quatro trimestres caiu 2,3%. “A primarização da produção tem um potencial de inserção muito periférico; não envolve setores intensivos em mão de obra e não gera empregos para melhorar as condições de trabalho e renda, porque privilegia o setor externo como comprador”, explica.

Em relação a mesmo período no ano passado, as importações de bens e serviços cresceram 9,8% no primeiro trimestre de 2017, mas influenciadas principalmente por têxteis e eletroeletrônicos, diz Jessica. “A participação maior desses itens mostra que este crescimento remunera, na verdade, os trabalhadores de fora, provavelmente da China, da Indonésia, etc.”

Já os segmentos associados à produção e à demanda local, capazes de aquecer a economia e de reverter os indicadores de expansão em melhorias para a população, foram mal pelo oitavo trimestre seguido, na comparação com mesmo período em 2016. A Despesa de Consumo das Famílias caiu 1,9%; e a Formação Bruta de Capital Fixo (que mede investimentos em máquinas e equipamentos, construção e pesquisa) encolheu 3,7% no primeiro trimestre de 2017, a 12ª queda consecutiva. “Como esses setores não cresceram, esse resultado do PIB não indica que o país retomou a geração sustentável de emprego”, avalia Jessica.

A supervisora técnica do Dieese no Rio observa que o agronegócio, que puxou o crescimento do PIB, é altamente mecanizado (ou seja, gera pouco emprego direto), contrata de forma sazonal (nos seis meses do ano em que não há colheita, despenca o número de postos de trabalho), oferece remuneração baixa, e, em muitos casos, registra condições de trabalho análogas às da escravidão. “Não é isso que vai recuperar a nossa economia”, afirma Jessica.

 

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