Para Requião, Meirelles defende interesses do capital financeiro no petróleo e minério do país

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Katarine Flor (Senge-RJ) e Marine Moraes (Senge-PE)*

Em palestra magna ministrada durante o 11º Congresso Nacional de Sindicatos de Engenheiros (Consenge), no último dia 6 de setembro, em Curitiba, o senador paranaense Roberto Requião (PMDB) atribuiu a atual conjuntura é resultado a um projeto do imperialismo que defende interesses próprios, “na desgraçada luta pela dominação dos recursos minerais, do petróleo e do minério”.

Segundo ele, “essa política moribunda da Europa financia o golpe e derrubou um governo eleito pelo voto popular”. O governo Temer (PMDB), observou o senador, toma decisões com base no documento chamado “Ponte para o Futuro”, elaborado pelo economista gaúcho e articulista do jornal Estado de S. Paulo, Marcos Lisboa, e por alguns economistas de bancos ou financiados pela estrutura bancária brasileira. “Nós temos que enfrentar o capital financeiro no Brasil, que tem Meirelles na Fazenda”, criticou, reforçando a crítica que tem feito ao próprio partido.

“É uma tragédia anunciada”, enfatizou. De acordo com Requião, as propostas do governo obedecem ao Consenso de Washington e à teoria da dependência, formulada por Fernando Henrique Cardoso e Enzo Paleta, economista italiano naturalizado argentino. Essa teoria, explica o senador, diz que “nós brasileiros não temos empresários capazes e esgotamos nossa capacidade de criação e construção, que nossa engenharia não vale nada e que os nossos trabalhadores são incapazes. E aponta como solução para a retomada do crescimento a dependência absoluta do comando de empresários capazes de construir os países de primeiro mundo.”

Celeiro do mundo

Se essa política prosseguir, alertou Requião, o país irá regredir e se transformar no “celeiro do mundo”, ou seja, voltar ao papel de mero fornecedor de commodities, produtos agropecuários ou minerais com baixo custo, para os países desenvolvidos do mundo. “Este cenário interessa fundamentalmente ao bloco norte-americano, bem como à China, que se transformou na ‘fábrica do mundo’, associada à Rússia. Nós passamos a ser objeto de cobiça dessa guerra que não é mais ideológica. É uma guerra geopolítica de potências tentando viabilizar suas economias internas sem se preocupar com o que acontece com o país provedor das matérias primas.”

Venda do território

O senador avaliou que a agricultura brasileira possui grande produtividade. “Nós temos uma produtividade igual ou superior à norte-americana. Mas eles querem expandir isso. Expandir como? Com a venda de propriedades agrícolas, de espaços territoriais brasileiros para estrangeiros de qualquer natureza. Dessa forma, nós não estaríamos alavancando a produtividade.”

Na verdade, essa política avança, por exemplo, sobre as reservas naturais da Amazônia, de forma a liberar áreas de proteção ambiental para produção de cobre por mineradoras, principalmente as canadenses, que são as que se demonstram mais interessadas, segundo o senador. Para ele, esse “aumento de produção”, com abertura de espaço e uma tecnologia que já é nossa, com uma injeção maior de recursos financeiros e mecanização, levará o Brasil necessariamente ao desemprego.

“Quando nos transformamos em ‘celeiro do mundo’, não estamos viabilizando os empregos necessários para conseguirmos uma relativa paz social para sobrevivência dos trabalhadores, das suas famílias e garantia de seus salários”, disse.

Contramão das soluções

Nesse sentido, a reforma trabalhista e o fim dos investimentos públicos, destacou, atuam na contramão das soluções apontadas pela história de superação de crises econômicas e sociais, como aquelas  adotadas nos Estados Unidos durante a grande recessão provada pela crise imobiliária da Flórida, na década de 30. “Ela foi superada com políticas extremamente claras, por meio de uma aliança entre o capital produtivo e o trabalho. Ao contrário de toda asneira que faz o atual governo do Brasil, a Ford propõe a diminuição da carga horária, ou seja, menos horas e mais gente trabalhando, garantindo por lei o salário mínimo, para viabilizar o poder aquisitivo”, lembrou.

O senador ainda destacou que, ao propor tais medidas, o atual governo imaginou que o Brasil receberia investimento norte-americano, atraído pela mão de obra barata. Segundo ele, os formuladores dessa reforma apostaram, também, na ideia de que a oportunidade de trabalho extraordinariamente mal remunerada poderia barrar a possibilidade de revolta das camadas populares. Contudo, o senador acredita que o Brasil viveu um período de conquistas sociais e que os trabalhadores não se conformarão com uma regressão à posição de colônia. “O Brasil tem saída. Se nós nos inspirarmos nesse modelo de recuperação de crise, nós saímos da mesma forma e muito rapidamente.”

Retomada do crescimento

A Petrobras – recuperada e valorizada — foi apontada por Requião como principal caminho para o crescimento e a retomada de desenvolvimento do país. “A Petrobras é a responsável por 70% dos investimentos realizados no país, e são esses investimentos e a política de compra de insumos nacionais que alavancavam nossa economia”, defendeu. “A história do mundo é a guerra do petróleo. O petróleo é o sangue mineral que impulsiona as economias. E nós o estamos entregando sem conflito, na bandeja."

O senador destacou ser imprescindível, neste momento, conter o processo de entrega do patrimônio nacional. Neste sentido, assinalou a criação no Congresso Nacional, da Frente Nacionalista pela Soberania, que conta com 201 deputados e 18 senadores. Uma das propostas da Frente é a realização de um referendo popular, junto às eleições de 2018, “para que o povo diga SIM ou NÃO para essas medidas de entreguismo de terra, de reforma trabalhista, de entrega da Amazônia, de entrega da Petrobras”.

Ele defendeu, também, a mobilização popular. “Com certeza, conseguiremos alguma coisa a partir de mobilizações populares, sindicatos, movimentos populares, presença nas ruas e protestos”.

Congresso de engenheiros

O 11º Consenge ocorreu em Curitiba, de 6 a 9 de setembro, com cerca de 300 participantes. O evento foi realizado pela Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge), que tem sede no Rio de Janeiro, e pelo Sindicato dos Engenheiros do Paraná (Senge-PR). Ao longo dos quatro dias, filiados aos 12 sindicatos que compõem a Federação, oriundos de todas as regiões do Brasil, tiveram como debate central a defesa da engenharia e da soberania nacional.

*Edição: Camila Marins (Fisenge) e Ednubia Ghisi (Senge-PR)

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