Para o presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos, é preciso uma “revolução brasileira”

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“A revolução deixou de ser impossível, porque se tornou necessária.” Quem diz é o presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos (Iela), Nildo Ouriques. Para ele, é importante que a disputa das próximas eleições aprofunde e espalhe pelo país o debate em torno de um programa para o que chama de “revolução brasileira”, aquela de que o país precisa com urgência. Ou seja, “um conjunto de transformações radicais, e em curto espaço tempo”, defende.

“São as grandes reformas de que a sociedade está grávida: auditoria da dívida, reforma agrária, política externa independente, superação da dependência científica e tecnológica, criação de uma potente indústria cultural de caráter nacionalista, controle completo e redução radical da remessa de lucros; impedir que a burguesia brasileira coloque o capital lá fora e restituir o poder de controle ao Banco Central; acabar com o rentismo”, explica. “E isso deve ser feito no prazo de um mandato presidencial.”

Ouriques, que também é professor de Economia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), estará no IV Simpósio SOS Brasil Soberano, no dia 14 de julho, em Curitiba. O evento, realizado pelos Sindicatos de Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro e no Paraná (Senge-RJ e Senge-PR), e pela Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge), tem como objetivo debater propostas de fortalecimento da soberania nacional e de direitos sociais para o país, com o tema “Brasil, 2035: um país justo e soberano”.

Nas atuais regras do jogo, com meios de comunicação hiperconcentrados e com o financiamento de campanha favorável ao poder econômico, o professor Ouriques aponta o próprio processo da disputa como fundamental para tentar restituir ao país o ciclo de avanços comparável ao do período de 1959 a 1964, que foi interrompido pelo golpe militar. “Estamos retomando aquela cena histórica”, avalia. “E as eleições não podem ser um concurso de ‘miss simpatia’.”

Especialmente, destaca, se o adversário representa as forças do capital. “Aqui ninguém é cidadão; isso é uma ilusão liberal, uma quimera. A miséria e a violência são tão grandes, que o capitalismo dependente impede a universalização de direitos. Restituir a legitimidade eleitoral não restitui a legitimidade política.” O que fazer? “A revolução brasileira.”

Segundo o presidente do Iela, o Brasil importou em 2016 US$ 19,6 bilhões em máquinas e equipamentos, sem agregar engenharia local aos investimentos. “Há uma gigantesca alienação tecnológica”, afirma, alertando aos engenheiros que precisam debater o problema da dependência tecnológica. “Isso só pode ser enfentado no contexto de uma revolução, quando temos o controle das decisões, que, hoje, está nas mãos das multinacionais.”

[Atualização (10/07/2017): o professor Nildo Ouriques apoia a iniciativa mas, infelizmente, teve que cancelar sua participação no IV Simpósio SOS Brasil Soberano.]

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