Feminismo e Gênero, imprescindíveis à justica social, à liberdade e à democracia

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A historiadora e professora Marlene de Fáveri desenvolve pesquisas na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) sobre gênero e feminismo, categorias que enfrentam atualmente, no país, uma forte campanha de “demonização” por partes de forças conservadores, em alguns casos até fascistas, conforme ela mesma denuncia no artigo abaixo. O tema estará em pauta no próximo dia 14 de julho, em Curitiba, durante o IV Simpósio SOS Brasil Soberano, do qual Marlene participa na mesa de debates com o tema “Política e Estado”.

“Se o Gênero, assim como o Feminismo, tem gerado discussões acaloradas, é porque é político”, escreve. Neste artigo, prévia da sua apresentação no simpósio, a professora explica por que seu feminismo, suas posições políticas, intelectuais e éticas a tornaram ré em processo movido por uma ex-orientanda. A ação gerou uma moção de apoio à professora por parte da Associação Nacional de História (Anpuh) e uma nota assinada por colegas do programa de pós-graduação da Udesc, além de diversos atos de protesto e solidariedade, nas faculdades e nas redes sociais. Confira o texto na íntegra:

Neste momento, vivenciamos no Brasil um movimento conservador de demonização do Feminismo e do Gênero, palavras tidas como `proibidas` e que têm sido brutalizadas em corações e mentes, sendo até excluídas de planos educacionais. Ambas remetem aos direitos das mulheres e à luta por equidade, emancipação, liberdade, erradicação de violências de gênero. Se o Gênero, assim como o Feminismo, tem gerado discussões acaloradas, é porque é político. Aquilo que instiga, gera, produz reflexões é eminentemente político.

Por que o espaço privado foi tão controlado ao longo da história? Porque é um lugar político; então, sendo privado e político, produz disputas. Se o Gênero é um lugar de relações de poder, assim como o Feminismo, por que pessoas se incomodam com o Gênero como categoria para analisar a sociedade? Quem se incomoda, e por quê? Que relações de poder são essas? Construídas na cultura, na educação, nos discursos eivados de preconceitos, espalham-se e são reproduzidas nas tribunas, nos tribunais, no parlamento, em diferentes instituições, religiosas ou não, e fomentam a discórdia.

Meu Feminismo advoga por justica social e direitos humanos, por democracia, por equidade de direitos, salvaguardadas as diferenças, e isto só virá, se as relações de gênero mudarem para a vivência de práticas igualitárias de direitos e liberdade de escolhas. Como categoria analítica, o Gênero nos dá suporte e referências para reflexões e ações acerca das violências, dos estudos sobre a infância, das famílias, das sexualidades, das relações tantas entre homens e homens, mulheres e mulheres, homens e mulheres.

Meu Feminismo reflete sobre as exclusões, denuncia as mazelas das violências, sejam de ordem sexual, doméstica, racial, homofóbica, étnica, geracional, de classe, dentre outras. E isto me fez ré de um processo. Mas eu não sou vítima, não cometi crime; vítima é o país, nessa onda fascista de tentativas de sujeição de seus professores e suas professoras ao silêncio, de amordaçar a fala, de silenciar, de fomentar medo. Então eu luto, e “lutarei em todas as trincheiras até o último minuto”, na frase de Dilma Rousseff.

Profa. Dra. Marlene de Fáveri – Departamento de História e  Programa de Pós-Graduação de História (PPGH), do Centro de Ciências Humanas e da Educação (Faed), da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc)

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