Dia do Engenheiro: mais do que comemorar, é preciso resistir

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Clovis Nascimento*

No dia 11 dezembro, comemoramos o Dia do Engenheiro e da Engenheira. A atual crise política e econômica no Brasil nos exige uma reflexão profunda. Deflagrada em março de 2014, a operação Lava Jato, cujo objetivo era de investigar lavagem e desvio de dinheiro na Petrobras, tomou rumos que ameaçam a engenharia e a soberania nacional. A legislação brasileira prevê a punição de empresas, impedindo a celebração de contratos com setor público e paralisando obras, quando deveria punir os dirigentes e os administradores, responsáveis pelo atos de corrupção. Países da Europa e dos EUA aplicam o método de “self cleaning”, imputando além de suspensão temporária de contratos e multas, a exigência de um programa rigoroso de combate à corrupção na empresa para a retomada dos negócios. A IBM, por exemplo, retomou os contratos com o governo oito dias após a interdição determinada em 2008, de acordo com o Public Contract Law Journal. Diante de fraudes nos contratos da GE com o Pentágono, em 1992, os contratos foram suspensos e retomados cinco dias depois com a apresentação de um sistema de vigilância interna.

As consequências da punição das empresas são demissões em massa, achatamento da economia e perda de competitividade no mercado. Consultorias estimam prejuízos da ordem de mais de R$150 bilhões. Nesse cenário, a engenharia brasileira foi diretamente atingida com o fechamento das empresas e a suspensão dos contratos. Dados da RAIS/Ministério do Trabalho compilados pelo Dieese apontam que a evolução do estoque de empregos de profissionais da engenharia cresceu 72,8%, entre 2005 e 2014, cerca de 6,3% ao ano. Já entre 2014 e 2016, o emprego caiu 10,4%, justamente no período da Lava Jato, comprovando os ataques à engenharia nacional.

Diante dessa avenida de oportunidades, empresas estrangeiras estão desembarcando no Brasil com o objetivo de assumir as contas, ameaçando a soberania nacional e a geração de empregos. A corrupção é abominável e traz danos para toda a sociedade brasileira. Fechar as empresas nacionais representa uma irresponsabilidade com o país e também não contribui para um processo pedagógico de combate à corrupção dentro da administração das empresas. Não são apenas os engenheiros que são demitidos, como também uma rede de milhares de trabalhadores. Um dos casos mais emblemáticos é o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), localizado no município de Itaboraí, orçado em US$ 13,5 bilhões e milhares de trabalhadores demitidos e um total abandono de um projeto de expansão da capacidade de refino da Petrobras.

A engenharia brasileira tem um sentido estratégico de defesa da soberania nacional, estímulo à economia e geração de empregos. Mais do que comemorar, é preciso resistir em defesa da engenharia e da soberania nacional.

*Clovis Nascimento é engenheiro civil e presidente da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros

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