Diretora da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros pergunta: 8 de março, e as engenheiras?

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Simone Baía*

Um relatório da Organização Mundial da Saúde aponta que o Brasil ocupa a 7ª posição entre as nações mais violentas para as mulheres de um total de 83 países. Esta semana, o estudo “Monitor da Violência”, uma parceria com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revelou que 12 mulheres são assassinados todos os dias, em média, no país. Foram considerados dados oficiais dos estados de 2017, contabilizando 4.473 homicídios dolosos, sendo 946 feminicídios. O 8 de março é uma data para reforçar não apenas a luta por igualdade de direitos e oportunidades, como também o combate à violência contra a mulher. E o que a engenharia tem a ver com o 8 de março?

A engenharia é uma área ainda predominantemente masculina. Dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) apontam que apenas 16% dos profissionais registrados são mulheres. Por outro lado, aumenta o número de mulheres nas universidades, fato que não se reflete na inserção do mercado de trabalho. Desde a universidade, ser mulher na engenharia é um desafio e uma luta. Isso porque as situações de machismo acontecem nas salas de aula, laboratórios, corredores e trabalhos em campo. Infelizmente, ainda é comum professores avaliaram alunas por suas características físicas ou as jovens serem cerceadas de estudos em campo, além das piadinhas entre os colegas que colocam em xeque a nossa capacidade intelectual. Estas são situações que também passamos no mercado de trabalho. A todo momento, precisamos nos afirmar como profissionais competentes, acumulando, inclusive, muitas jornadas de trabalho. No trabalho em campo, é comum ouvirmos dos homens “onde está o engenheiro?”. E sempre temos que responder: “Eu sou a engenheira” ou ainda temos que lidar com a falta de banheiro feminino (situação que persiste em alguns lugares), com a falta de EPI (Equipamento de Proteção Individual) adequado para mulheres e com salários desiguais, mesmo exercendo a mesma função de um colega.

Todos estes enfrentamentos são perpassados pelo combate à violência contra a mulher, uma vez que nenhuma de nós está imune a agressões, sejam elas verbais, emocionais, patrimoniais ou físicas. A violência contra a mulher atinge todas as classes sociais e com o agravante de que mulheres negras são as que mais morrem – 54% de aumento -, segundo o Mapa da Violência de 2015.

Graças às mobilizações de mulheres e à Lei da Maria da Penha, o silêncio tem sido quebrado. O amparo do Estado em situações de violência é fundamental para o combate à violência contra mulheres. Em 2015, foi aprovada a lei 13.140, que qualifica o feminicídio no Código Penal como crime de homicídio. E, mesmo assim, os dados e os casos são estarrecedores. Precisamos romper com o silêncio e com os preconceitos estruturais que precarizam a vida das mulheres. Em tempos de censura, cerceamento e aprofundamento da lógica neoliberal, urge o debate sobre gênero na sociedade. Isso significa pensar políticas públicas para nós, mulheres, para nossas filhas, nossas mães, nossas irmãs, nossas colegas de trabalho. Somos muitas e estamos em todos os espaços e, para que possamos avançar, é necessário que homens também tomem essa discussão para si. O combate à violência contra a mulher e a luta por igualdade de direitos é uma luta de toda a sociedade.

A nossa luta é todo dia. Nenhuma mulher a menos. Vamos juntas.

*Simone Baía é engenheira química e diretora da Mulher da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge)

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