Adeus, Temer!

Francisco Teixeira*

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Na semana em que se preparava a primeira Greve Geral em 20 anos no Brasil, o Datafolha ouviu a população e registrou o já sabido: o presidente em exercício é o politico mais desacreditado do país, com um nível de rejeição na casa de 65%, e o seu governo é aprovado por apenas 9% dos consultados¹; tornando-se o pior presidente de toda a história republicana brasileira. Da mesma forma, como saída da crise em que o país foi envolvido pelo atual governo e em face da impopularidade do presidente, 85% dos consultados querem eleições gerais já.

Ou seja, a legitimidade do atual governo chegou ao ponto mais baixo de aprovação na história de todos os líderes republicanos.

Estudo estatístico do DAAP/FGV também nos revela que o movimento social, que organizou e sustentou a Greve Geral de 28 de abril de 2017², foi o maior registrado em rede no país, superando amplamente a movimentação pró-impeachment de 2016. O levantamento mostra que a “Lista Facchin” foi um importante ponto de inflexão da opinião pública e da mobilização das redes, com a oposição ao governo assumindo a liderança de toda a comunicação social não empresarial. A argumentação ética e moral como ferramenta política, utilizada por apoiadores do governo – PMDB/PSDB/DEM e “movimentos sem partidos”–, ruiu completamente. Teria se dado aí o ponto irreversível de virada da opinião pública, fazendo as ruas ferverem, por todos os lados, ao som de “fora, Temer”.

Para a maioria, nas redes sociais – fora do controle da mídia empresarial –, ocorreu, simultaneamente, outro fenômeno: o processo das chamadas “reformas” foi irreversivelmente identificado com a perda e supressão de direitos sociais, muito especialmente a reforma trabalhista ( incluindo a “terceirização” ) e a reforma da Previdência.

De ponta a ponta, mesmo tendo recursos milionários de publicidade e o apoio da mídia empresarial, o governo foi derrotado amplamente. O esforço de minimização dos efeitos e da extensão da Greve Geral não deu resultado, e o presidente não conseguiu oferecer uma resposta política adequada ou alternativa. A única ação da equipe Meirelles, vocalizada por Temer, é aprofundar as mesmas reformas que são identificadas, agora de forma generalizada, como anti-povo e anti-trabalhadores.

O governo está acuado e sem respostas.

No plano macroeconômico, o país continua numa crise profunda, no segundo ano de uma depressão aguda, com um crescimento negativo de -3.6% do PIB. Em tais condições, já estamos condenados a crescer aceleradamente até 2023 para chegar aos índices vigentes de 2011!

O governo, acreditando  que bastaria a mudança no “clima favorável aos investimentos” – leiam-se as tais “reformas” estruturais antipopulares – para a retomada econômica, mantém-se paralisado em termos de políticas anticíclicas, de caráter imediato anti-crise. Assim, o desemprego registrado passou de 12 milhões para 14 milhões – sendo que o desemprego ampliado, conforme o conceito da Organização Internacional do Trabalho (OIT), já chega a 23 milhões de pessoas. São milhões de pessoas desesperançadas e humilhadas num país potencialmente rico. Com isso, a retomada do crescimento fica cada vez mais difícil e o achatamento do PIB, mais profundo.

Uma vez mais, o governo responde como sabe (e como é de sua natureza): vende o patrimônio nacional com perdas inestimáveis e, vergonhosamente, alterando a forma de cálculo do IBGE para os índices de crescimento do PIB! Assim, perdemos a capacidade de cálculo da série histórica do PIB, conforme realizada desde o Plano Real em 1994. Quando a realidade contradiz os dogmas, o governo muda as estatísticas!

Enquanto isso, a insegurança toma conta das grandes cidades brasileiras, como o Rio de Janeiro; a saúde pública torna-se uma calamidade e milhões de pessoas deixam seus planos de saúde; a escola pública é abandonada falida em vários estados. As revelações de listas de corrupção acumulam nomes daqueles que bradavam pela moralidade pública, não poupando partidos, incluindo os tribunais de contas e roçando o Poder Judiciário.

Na semana das mobilizações do 1º de maio de 2017 – um ano após um grupo de políticos tomar de assalto o poder –, tornou-se evidente: “o Brasil é um país à deriva”.

Hoje, as ruas deixam o sinal claro de que o governo ruiu e acabou, como registrado sem vacilo por toda a imprensa internacional que cobriu a Greve Geral de 28 de abril, no Brasil.

O mais grave é que o Presidente em exercício, num gesto de desafio às ruas, ameaça vir a público no 1º de maio para dizer que continuará com as “reformas”, que só interessam aos mercados. Tal atitude constitui um desafio contra o povo e um grave atentado à moral política, e deixa evidente que Temer e seus auxiliares não têm condições de continuar à frente do governo do país. Como se sabe, numa batalha política jamais se pode perder a moral, atributo que este governo já perdeu faz tempo e, sendo assim, não tem mais condições de se sustentar.

Hoje, sem dúvida, temos “povo nas ruas”, porém as instituições políticas não apresentam a moral necessária para reverter a grave crise política, social e econômica em que lançaram o
país.

O governo Temer acabou e, pelo bem geral da Nação, deve ser imediatamente encerrado.

Temer, adeus!

*Francisco Carlos Teixeira é historiador.

 

¹ http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/rejeicao-a-governo-temer-cresce-e-supera-60-diz-pesquisa-datafolha/ consultado em 30/04/2017.

² FGV/DAAP. Brasil em Greve, Relatório de Análise Estratégica de Redes Sociais, 28/04/2017. Recebido por whatsapp, em 30 de abril de 2017.

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